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“Minha tese de mestrado virou aula em Harvard”

Pedro Henrique Cristo

Depoimento de Pedro Henrique Cristo concedido a Ana Pinho 

“Ao concluir meu primeiro ciclo profissional como administrador público, eu tinha uma trajetória cômoda à disposição. Mas sabia precisava me preparar mais para fazer mais. Então, aos 27 anos, parti para o mestrado. Pesquisei cursos por mais de um ano, em busca de algum que integrasse design e políticas públicas. O Masters in Public Policy (MPP) de Harvard se destacou fortemente, e o fato de ser lá também foi um grande bônus.

Acredito que o Brasil tem tanto ou mais talento do que qualquer outro país, mas não tem o ecossistema necessário para que inovações floresçam. Por isso, meu sonho é fazer do Brasil o país da educação, da sustentabilidade e da inovação

Entre 2009 a 2011, estudei em Harvard como fellow da Fundação Lemann e bolsista da Fundação Estudar. O mestrado foi decisivo para meu crescimento humano e como profissional. Fui focado em me preparar para causar o máximo de impacto possível na volta, e aprendi que a melhor maneira de fazer isso é tendo o Brasil como base. Mas, ao mesmo tempo, tendo acesso ao capital humano e às inovações tecnológicas do mundo.

No início, o frio incomoda e a questão financeira é um desafio. Mas são coisas menores quando comparadas ao lado bom da experiência. Tive a honra de ser bolsista integral. Não pagava nada de mensalidade, mas tive que me virar para viver lá: fui pesquisador associado, palestrante associado, monitor… Foi puxado, mas sempre pensei que tinha que agarrar minhas oportunidades com todas as forças. Estar lá era um grande privilégio.

Conheci pessoas brilhantes, aproveitei ao máximo a integração de Artes e Ciências que a cooperação entre Harvard e MIT possibilita e aprendi a articular e atrair melhores talentos para fazer propósitos comuns acontecerem. Entre os principais ganhos, estão ver minha tese virar aula na Harvard Graduate School of Design – chamada de Escola do Ano 20130@RJ – e ter conhecido minha esposa.

Meu retorno ao Brasil foi incrível. O diploma me abriu muitas portas, mas quem me valorizou primeiro foi a universidade, que nos deu uma excelente bolsa de pesquisa para continuar o trabalho aqui. A demanda por especialistas em políticas públicas no mercado é imensa, e esse momento pós-mestrado é realmente estratégico para definir que rumo sua carreira vai tomar.

Foi muito especial continuar meu vínculo com Harvard após a formatura enquanto eu “concluía” a segunda parte do meu mestrado, que chamei de estudo independente. Enquanto trabalhava dentro e fora do Brasil, morei por três anos no Vidigal, uma comunidade do Rio de Janeiro. Embora tenha me mudado, subo o morro todos os dias rumo ao meu estúdio no coração da favela.

Aos 32 anos, tenho entre meus principais projetos o +D, estúdio de arquitetura, tecnologia e políticas públicas do qual sou co-fundador, e o Parque e Instituto Sitiê, que fica no Vidigal e em que trabalho pro-bono como diretor executivo e de design. Ambos são desdobramentos do Cidade Unida, um movimento criado e liderado por moradores da favela, pesquisadores e jornalistas do qual tive a honra de fazer parte em 2011, quando voltei de Harvard.

Meu trabalho durante este período foi dedicado à arquitetura e urbanismo, políticas públicas e pesquisas, tanto no Rio quanto na Colômbia, no Haiti, nos EUA e na Europa. O Cidade Unida se transformou em outros projetos que continuam atuantes por todo o Rio de Janeiro, e foi premiado pela ONU. Hoje, o +D atua nas Américas, Europa e na África do Sul, enquanto o Sitiê se tornou um dos principais legados da sociedade civil carioca para seu momento olímpico – e, como primeira agro-floresta da cidade, a inovação urbana latino-americana mais reconhecida desde o Urbanismo Social em Medellín.

Acredito que o Brasil tem tanto ou mais talento do que qualquer outro país, mas não tem o ecossistema necessário para que inovações floresçam. Por isso, meu sonho é fazer do Brasil o país da educação, da sustentabilidade e da inovação. E se antes eu especulava, hoje sei que podemos colaborar e competir com os melhores, porque é o que venho fazendo desde que tive a oportunidade de iniciar meu mestrado.”

Sobre Pedro Henrique Cristo

Pedro Henrique Cristo, de 32 anos, é co-fundador do estúdio +D e diretor executivo do Parque e Instituto Sitiê, no Rio de Janeiro. Formado em Administração Pública e Privada pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), cursou mestrado em Políticas Púlbica na Harvard Kennedy School of Government, nos EUA. É bolsista da Fundação Lemann e da Fundação Estudar

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