Uma dúvida que pode ser recorrente a quem deseja estudar fora, especialmente caso ainda não saiba ao certo em qual instituição, é a respeito do modelo de ensino em outros países. Evidentemente, além de adquirir um experiência no exterior, ter contato com outras culturas e aperfeiçoar os conhecimentos em outro idioma, quem quer construir um currículo acadêmico profissional busca um ensino de qualidade.
É importante, porém, saber que costumamos comparar o ensino no Brasil com modelos estrangeiros tendo como base metodologias geralmente pautadas pelo modelo americano. Caso, por exemplo, dos rankings QS World University e Times Higher Education World University. No caso do primeiro, alguns dos critérios para elencar as melhores instituições são reputação acadêmica, empregabilidade, proporção de alunos e quantidade de estudantes estrangeiros. Já o segundo se baseia em indicadores como ambiente acadêmico e volume de pesquisa, ou seja, privilegia a produtividade dos acadêmicos.
No entanto, existem modelos de ensino ao redor do mundo que são diferentes, não só do que a gente conhece, como também do que costuma ser avaliado nos rankings. O Estudar Fora reuniu algumas informações sobre os modelos de ensino em diferentes partes do globo. Conhecê-los melhor pode ajudar a clarear suas escolhas e embasar seus estudos!
Estados Unidos
Em uma comparação imediata com o modelo brasileiro, em que os principais cursos nas universidades geralmente duram quatro anos e são voltados a uma área específica previamente escolhida pelo aluno, nos EUA é preciso cursar matérias de conhecimentos gerais nos primeiros dois anos da graduação, e só é possível escolher de fato o curso de interesse depois do terceiro ano. Nesta modalidade existe o tão falado major, que é o foco principal da sua graduação, e o minor, que seria um curso complementar, como um tema de estudo secundário. (Em algumas áreas como pré-medicina os cursos têm maior duração e, nesse caso, não vale essa divisão em major e minor).
Os processos seletivos para ingresso em universidades norte-americanas (application) são complexos. Para ter chances, é essencial que se consiga balancear os estudos com atividades extracurriculares que demonstrem um perfil de liderança e proatividade. Boas notas no Ensino Médio e nos exames padronizados contam bastante. Um exemplo é o engajamento em trabalhos voluntários que tenham a ver com seus interesses e planos.
As universidades dos EUA estão frequentemente no topo dos rankings mundiais. O ensino é majoritariamente particular, e as anuidades não são nada modestas (mesmo as públicas, parcialmente subsidiadas, costumam custar caro). De acordo com a OCDE, cursos rápidos e de especialização custam em média R$ 7 mil por ano, enquanto a anuidade na graduação sai por R$ 25.400. Já o mestrado fica por R$ 33.500, em média.
Suíça
O sistema de ensino superior suíço é orientado pela Declaração de Bolonha, que organiza a estrutura por meio de créditos, sendo 180 créditos ECTS (sigla correspondente a Sistema Europeu de Transferência e Acumulação de Créditos), o equivalente a três anos de estudo em tempo integral, para conclusão do bacharelado e 90 a 120 créditos ECTS (que equivale a até 2 anos de estudo integral) para Mestrado. Já no caso do doutorado, cabe a cada universidade definir os critérios.
Como as universidades se dividem em cantões, que são estados soberanos, os modelos de ensino podem variar de acordo com o cantão e, em geral, a forma de ingresso nas universidades também é definida de forma particular por cada instituição. Estudantes estrangeiros precisam ter um certificado de conclusão de curso que seja equivalente à educação secundária suíça, mas algumas instituições como o Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Zurique e Escola Politécnica Federal de Lausanne oferecem exames de admissão específicos para alunos de outros países, que já garantem a equivalência.
Como o país é conhecido por investir de forma maciça em educação de qualidade, os custos de ensino superior são relativamente baratos, ficando em uma média de 1500 euros por ano.
Alemanha
Argentina
O sistema universitário argentino é semelhante ao brasileiro, mas tem um diferencial peculiar: não há vestibular para ingressar nas universidades – que, aliás, são públicas.
Geralmente, a forma de ingresso se dá por meio da apresentação do diploma de ensino médio reconhecido pelo Ministério da Educação do país de origem e da Argentina, além do DNI, que é um documento de identidade emitido por autoridades migratórias. Não há limite de vagas para muitos dos cursos, sendo que um dos mais procurados por estudantes estrangeiros (particularmente os brasileiros) é o curso de Medicina.
Japão
As universidades japonesas costumam ter cursos de bacharelado com 4 anos de duração, e algumas também oferecem mestrado (de 2 anos) e doutorado (de 5 anos). Há também programas dedicados exclusivamente a alunos-pesquisadores (Research Student) e as chamadas Special Training Colleges, que oferecem cursos mais rápidos e práticos. Há também as Colleges of Technology, de cursos técnicos.
Para ingressar em uma instituição de ensino japonesa, os alunos estrangeiros precisem realizar um exame unificado, que é o chamado EJU (Examination for Japanese University Admission for International Students), um teste que avalia, entre outras questões, os conhecimentos na língua japonesa e em matérias como Ciências (Física, Química e Biologia) e Matemática. Outros detalhes do processo de admissão variam de acordo com a universidade escolhida.
Diferentes modelos de ensino no exterior, segundo brasileiros
É comum que a diferença de estruturas de ensino em outros países cause algum estranhamento inicial em alunos estrangeiros, por falta de adaptação. O brasileiro Rafael R.O. dos Santos, que foi admitido na alemã Universität Stuttgart por meio de um programa de intercâmbio de parceria entre a USP e o DAAD (Departamento Alemão de Intercâmbio Acadêmico), conta como foi a experiência. “Não diria que tive dificuldade com relação ao modelo alemão, mas surpresa ao descobrir que, na universidade em que eu estava, você não sem matriculava para a maioria das matérias; apenas para as provas que eram dadas após a conclusão do semestre”. Sobre o processo de admissão, ele diz que a instituição se importou muito mais com a vontade de ele aprender no país do que com os conhecimentos no idioma oficial, por exemplo. “Eu não falava nem inglês, nem alemão quando fui aprovado”.
“Na universidade em que eu estava, você não sem matriculava para a maioria das matérias; apenas para as provas”
Já no caso de Marcelo Parodi, que fez MBA no International Institute for Management Development (IMD) em Lausanne, na Suíça, a percepção foi de uma admissão mais rigorosa. “Não basta uma boa nota no GMAT. A escola (IMD) quer selecionar alunos que tenham uma rica experiencia profissional e pessoal, justamente para que a discussão em sala de aula seja eclética e agregue valor para os demais alunos. Ou seja, não basta o que você sabe; você também é avaliado pelo que você é”, explica.
Sobre as impressões iniciais do curso, ele diz que no começo foi difícil acompanhar. “O modelo de ensino do IMD era totalmente baseado em estudos de caso e discussão em sala de aula. No Brasil, eu estava habituado com o esquema ‘decoreba’, mas o que o professor buscava em sala eram pontos de vista opostos sobre um mesmo tema. Já as notas eram baseadas na qualidade e frequência das suas contribuições em aula, e não em provas escritas, como eu estava acostumado no Brasil”.