Por Beatriz Montesanti
Saber inglês hoje em dia não é mais um diferencial no mercado de trabalho – é uma exigência. Conhecer o mundo fora de sua bolha, então, é essencial. Para Ricardo Ribas, gerente executivo da empresa de recrutamento Page Personell, realizar um intercâmbio é ainda mais do que isso.
“O inglês aumenta a média salarial entre 10% e 15% na mesma posição – inclusive no mercado brasileiro. Para mercados internacionais, então, é pré-requisito”, afirma o especialista. Segundo ele, atualmente apenas 4% dos profissionais no mercado têm domínio da língua inglesa, o que mostra como ainda é relativamente pequeno o número de pessoas que têm a oportunidade de estudar no exterior. Mesmo assim, ele ressalta, morar fora não é só uma questão de idioma.
“Morar fora é se adaptar e interagir com uma nova cultura, ver que o mundo é muito maior que sua cidade e também desenvolver competências comportamentais”, afirma.
Por isso, não existe uma idade certa para correr atrás de uma oportunidade. “Conheço pessoas que foram aos 40 porque sentiram que o mercado ou o novo cargo que iria assumir exigia aquilo”, exemplifica.
Segundo ele, cada momento pede um curso ou oportunidade diferente. “Não adianta ir para fora fazer um curso de ‘conversation’ quando você já tem inglês fluente e poderia fazer um curso na sua área. É importante pensar fora da caixa”.
Quais são os diferenciais?
Além de ajudar a abrir a cabeça para outras perspectivas, conviver com diferentes pessoas também oferece uma rede de contatos que pode ajudar na carreira futura, afirma Ricardo. “Pessoas que investem nisso colhem frutos de forma internacional e se recolocaram muito facilmente na volta ao Brasil através do networking que fez”, completa.
Mas o consultor faz uma ressalva: “Sem dúvida, quando pensamos nas habilidades comportamentais, a experiência internacional pode projetar a carreira do profissional. Mas não podemos generalizar: o intercâmbio não vai garantir a carreira de ninguém. Às vezes pegamos pessoas com expectativas muito altas, que nem sempre conseguem mostrar que aproveitaram a experiência para desenvolver as características necessárias”, alerta.
Entre as áreas em que um intercâmbio pode ser uma experiência valiosa, Ribas destaca posições gerenciais ou em consultorias nacionais, além de análise financeira e marketing.
A vivência internacional, segundo ele, chega a ser um pré-requisito em consultorias de projetos globais ou voltadas para análise financeira e compras. “Em logística, geralmente o comprador vai algumas vezes se deslocar para realizar compras e com essa experiência no currículo ele mostra que tem mais facilidade de adaptação”, finaliza.
As pesquisas comprovam
Dois estudos recentes avaliaram o diferencial na carreira de se realizar um intercâmbio e chegaram às mesmas conclusões apontadas por Ribas: estudantes que passaram um período no exterior têm maiores chances de encontrar emprego e assumir cargos de diretoria. As pesquisas, divulgadas pelo site Inside Higher ED, foram feitas com participantes do Erasmus, programa de mobilidade estudantil entre países da União Europeia e países associados.
A primeira pesquisa foi realizada por uma comissão da União Europeia que examinou, região por região, os impactos do programa. Feito com mais de 50 mil alunos, 18 mil profissionais e 652 empregados, o estudo chegou à conclusão de que estudantes participantes do Erasmus saem na vantagem ao procurar um trabalho: apenas 2% levavam mais de 12 meses para encontrar o primeiro emprego, ante 4% dos não-participantes. Cinco anos após a graduação, a taxa de desemprego entre intercambistas era 23% mais baixa que entre não-intercambistas.
O Erasmus Impact Study também avaliou o impacto de estudar em outro país no desenvolvimento de certos aspectos da personalidade, como tolerância, curiosidade, confiança, serenidade e determinação. O estudo mostrou que os alunos que fazem intercâmbio já têm uma predisposição a essas características maior do que os que não fazem, mas também mostrou que os alunos aprimoram ainda mais essas capacidades durante a experiência internacional.
Segundo Uwe Brandenburg, coordenador dos estudos, o diferencial deles é que, pela primeira vez, foi utilizado um método que de fato mede a relação entre empregabilidade e traços de personalidade. “Não basta perguntar aos alunos se eles acham que mudaram como consequência da experiência sem de fato testar essas mudanças”, afirma.
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