Por Herton Escobar e Edison Veiga, na Exame.com
A maioria dos brasileiros que concluíram doutorado no exterior entre 2012 e 2016 é mulher – mas elas ainda têm menos inserção no mercado de trabalho e recebem salários menores do que os homens, segundo levantamento do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Segundo o estudo, 14 mil brasileiros obtiveram título de doutor fora do país entre 1970 e 2014. Desse total, 8.357 (59%) são homens e 5.786 (41%), mulheres. A partir de 2012, porém, a tendência se inverte, e as mulheres passam a ser maioria, chegando a 60% do total em 2014.
“A reversão pode estar associada a um conjunto de fatores sociais e econômicos bem conhecidos no País, como a crescente independência da mulher na sociedade, a transformação do papel feminino e a participação ativa no mercado de trabalho”, diz o relatório.
“É uma tendência que já se observa há algum tempo entre os doutores titulados no País”, disse o presidente do CGEE, Mariano Laplane. No cenário doméstico, as mulheres já são maioria desde 2004. “Acho isso muito bom. Pena que a remuneração não esteja equilibrada.”
O levantamento mostra que estudar no exterior é um bom investimento, tanto para homens quanto para mulheres. O salário médio dos doutores com titulação no exterior é de R$ 17,3 mil – o dos doutores em geral é de R$ 13,8 mil.
Os salários das mulheres, porém, são em média 20% menores – diferença menor do que a verificada no mercado de trabalho em geral (em torno de 25%), mas ainda significativa. A taxa de emprego formal entre as mulheres também foi menor do que entre os homens em todos os anos do período.
Altos e baixos
A média de doutores formados no exterior desde 1970 foi de 315 por ano, com altos e baixos ao longo do período. Houve uma queda expressiva entre 1995 e 2001 – reflexo de uma mudança estratégica, no sentido de favorecer a formação de doutores dentro do país.
Mas os números voltaram a crescer a partir de 2001, e explodiram a partir de 2007, impulsionados pelo crescimento econômico e pelo lançamento do Ciência sem Fronteiras.
A base para o estudo foi a plataforma de currículos Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os países que mais formaram doutores brasileiros foram Estados Unidos (3.710), seguidos por França (2.305), Grã-Bretanha (2.067), Espanha (1.520) e Alemanha (947).
A única
Em 1981, recém-graduada em Arquitetura e Urbanismo, Leda Maria Vieira Machado, que se formou em 1979, sentiu na pele o que era ser minoria quando foi uma das 14 alunas de um curso de pós-graduação em Desenvolvimento Urbano da University of London, na Inglaterra. “Tinha gente do mundo inteiro e eu era a única mulher, e a mais nova”, conta ela, hoje com 57 anos.
“Fui muito bem e me convidaram para fazer mestrado”, diz ela. O mestrado foi em Economia. Na sequência veio o doutorado em Sociologia. Em 1991, Leda decidiu voltar. “No fundo, sentia uma obrigação social com o Brasil. Quem pagou meus estudos foram os brasileiros, com impostos”, diz ela, que foi bolsista. Em 1998, ainda fez um pós-doutorado na Espanha.
Leda diz não acreditar que ter se pós-graduado no exterior tenha facilitado sua inserção no mercado de trabalho. “Na verdade, você volta ao país sem nenhum apoio”, afirma. Ela trabalhou em empresas públicas, foi comissionada na Universidade de São Paulo (USP) e dirigiu Departamentos de Recursos Humanos de diversas multinacionais. Desde 2011, tem uma empresa própria de consultoria.
Esta matéria foi originalmente publicada em Exame.com
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