Os números são alarmantes: a cada hora, cinco novos casos de ebola são confirmados em Serra Leoa, de acordo com a ONG Save the Children. O país, junto a Guiné e a Libéria, encabeça a lista dos mais afetados pela epidemia, que já matou mais de 4.500 pessoas só neste ano.
Mas eu acho que a maior lição que ele levou daqui é que não basta saber. Não basta ser bom. É preciso ser bom e generoso. É preciso aprender e depois ensinar. E depois continuar. E não parar nunca
No meio de tanta tragédia lembrei de Kelvin, um adolescente nascido e criado em Serra Leoa. Aos 13 anos, aprendeu sozinho conceitos básicos de eletrônica e decidiu construir um rádio FM. Catando fios, condutores, baterias e outras parafernálias no lixo, ele montou seu radinho, tornou-se DJ, locutor e criou sua própria estação. Em 2012, Kelvin participou de uma competição e ganhou o direito de fazer um curso no MIT (Massachusetts Institute of Technology), aqui em Cambridge, onde moro.
Ele atravessou o oceano, aterrissou em outro continente, viu neve, chorou com saudade de casa e aprendeu. Aprendeu muito. Mas eu acho que a maior lição que ele levou daqui é que não basta saber. Não basta ser bom. É preciso ser bom e generoso. É preciso aprender e depois ensinar. E depois continuar. E não parar nunca.
Kelvin Doe aprendeu sua lição. Com a epidemia de ebola se alastrando feito fogo no vento, ele decidiu usar sua estação de rádio para informar as pessoas sobre tratamentos, primeiros socorros, formas de contágio, número de mortos e outros dados importantes. Serra Leoa, um dos países mais miseráveis da África, tem pouquíssima infraestrutura: a energia só aparece uma vez por semana, as pessoas não tem acesso à TV e o rádio é a melhor forma de comunicação. Aos 17 anos, o garoto que saiu do oeste da África e passou 3 semanas no MIT, agora ajuda seu povo a se salvar.
Eu sempre acreditei na educação. E aqui, todos os dias tenho contato com as maravilhas que ela pode nos oferecer. A educação transforma, empodera. Viver num ambiente tão fértil só me dá a certeza que preciso fazer alguma coisa para contribuir com o mundo. Porque a nossa existência é especial demais para a gente não transformar outras vidas, outras famílias, outras comunidades; um mundo inteiro.
E você, o que está fazendo para transformar a sua realidade e a das pessoas ao seu redor?
Assista no vídeo a seguir a história do Kelvin (em inglês) e inspire-se:
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Carol Campos é advogada por formação e docente por vocação. Fez mestrado em Ciência Política, estudou Direito Empresarial, saúde pública, educação e feminismo. Como advogada, trabalhou em escritórios como TozziniFreire e Dannemann. No serviço público, atuou na ANVISA. Por sete anos, foi também professora de ensino superior. Tornou-se gestora educacional, trabalhou com assuntos regulatórios em educação, coordenou um Núcleo de Prática Jurídica e outro de TCC: ao mesmo tempo! Até que um dia fez as malas, vendeu os móveis, empacotou os livros e foi morar com a família em Cambridge. Atualmente, realiza de diversos cursos na área de educação e é voluntária do MIT Brasil, além de escrever para o Estudar Fora.
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