Depoimento de Joice Toyota concedido a Ana Pinho
“Meu mestrado aconteceu exatamente no momento em que decidi dar uma guinada na carreira. Eu tinha 29 anos e estava trabalhando em consultorias há sete quando encontrei o que fazia meus olhos brilharem, que era educação pública e governo. Foi quando comecei meu processo de application (candidatura) a Stanford, uma escola que oferece um MBA excelente e ainda poderia me manter conectada com o Brasil, uma vez que dispões do Lemann Center, um centro formado por quatro professores excepcionais que realizam pesquisa de ponta em educação brasileira. Também foi bom para meu marido, que é empreendedor e atraído pelo Vale do Silício. Demos muita sorte de passarmos na mesma universidade e foram dois anos fantásticos como recém-casados, de junho de 2013 a junho de 2015.
Minha perspectiva do Brasil mudou muito enquanto estive lá. Sou otimista em relação ao país e passar um tempo fora me ajudou a ter um olhar mais crítico, sem perder a vontade de fazer acontecer
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Meu caminho até Stanford não foi tão óbvio. Nunca tinha sonhado em estudar fora até ver que meus colegas estavam indo. Eram pessoas parecidas comigo, eu pensei, e se eles podem eu também posso! Fui a primeira pessoa da minha família a fazer pós-graduação e, quando eu estava aplicando, minha família e eu ficamos preocupados com os preços dos cursos, que ultrapassavam 50 mil dólares por ano. A parte boa desta história é que há muitas organizações que apoiam estudantes brasileiros que querem estudar fora. Consegui bolsas da Fundação Lemann, da Fundação Estudar e da Brazilian-American Chamber of Commerce. Na formatura, meu pai foi o único a bater palma para todos os 400 formandos. Estava muito feliz.
Logo após sair o resultado, ainda no Brasil, comecei a trabalhar no governo e veio a vontade de continuar nesse caminho. Por ter passado tempo em Stanford, onde fiz um joint degree (diploma conjunto) de MBA e mestrado em Educação, resolvi empreender pela primeira vez na vida com alguns amigos. Entre o primeiro e o segundo ano de estudos, no verão, lançamos uma nova versão do Vetor Brasil, que conecta jovens talentos a projetos inovadores e de alto impacto social no setor público, e o projeto começou a dar certo. Ganhei um prêmio de inovação social em Stanford e voltei há cinco meses ao Brasil para tocar o Vetor.
Um dos grandes desafios do governo é atrair pessoas de qualidade, porque há um estereótipo de que é um lugar corrupto, que não funciona. É fácil xingar na mesa do bar – eu também faço isso! –, mas tem muita gente melhor que eu trabalhando ali e que tem enorme dificuldade em atrair talentos porque não tem um selinho no currículo como o meu mestrado. Agora, consigo chacoalhar mais os outros para provar que há coisas legais e interessantes na área pública.
Onde trabalho, muitos não sabem a diferença entre um intercâmbio e um MBA. Mas há quem agora esteja mais interessado em ouvir o que eu tenho a dizer e investidores que abrem as portas. Também atrai os jovens ao Vetor Brasil. Como muitos pensam em fazer mestrado fora, é algo que desperta a atenção.
Minha perspectiva do Brasil mudou muito enquanto estive lá. Sou otimista em relação ao país e passar um tempo fora me ajudou a ter um olhar mais crítico, sem perder a vontade de fazer acontecer. Refleti sobre as dificuldades históricas do Brasil, que vão precisar de mais força e mais paciência.
Esse tempo para refletir com qualidade e dedicação mudou minha vida: não adianta pensar no ônibus a caminho de casa. Lá, fui muito desafiada, bombardeada por pessoas, ideias, cursos, e no meio disso encontrei um papel que posso cumprir, que é atuar no setor público para ajudá-los e me ajudar.
Meu sonho é que o Brasil seja um país menos desigual, em que as pessoas não tenham oportunidades de vida tão diferentes por conta de suas condições financeiras. É uma indignação que surgiu quando eu era pequena e que carrego até hoje.”
Sobre Joice Toyota
Joice é diretora do Vetor Brasil. Formada em Engenharia pela Escola Politécnica da USP, fez MBA & Mestrado em Educação em Stanford, entre 2013 e 2015. É bolsista da Fundação Lemann e da Fundação Estudar.
*Na foto, Joice durante a formatura do seu mestrado em Stanford / Crédito: Telma Mendes
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