“No meu colégio na Índia, tudo é organizado pelos alunos”
Por Lucas Sato
Com a voz um pouco emocionada, chamei ao palco, pelo microfone, o Secretário Geral da conferência. Ouvi a tudo que ele tinha a dizer sobre o quão gratificante os últimos três dias tinham sido, e sorri e acenei em acordo durante todo o seu discurso. Assim que ele acabou, uma salva de palmas concluíram sete meses de trabalho duro.
Foi durante o final de semana dos dias 25, 26 e 27 de setembro que aconteceu o UWCMC MUN: o Modelo de Nações Unidas do colégio. O evento, cujo modelo tem se popularizado bastante no Brasil durante os últimos anos, consiste em alunos de ensino médio adotarem o papel de delegações de diversos países simulando discussões de órgãos da ONU. Espera-se que cada participante pesquise bastante sobre as políticas do país que representa e que todos estejam prontos para debater, com muita seriedade, temas complexos. Já havia participado de conferências do tipo no Brasil, mas foi só aqui que tive a oportunidade de vivenciar uma que, de fato, reúne delegações de todos os cantos do mundo, não só de acordo com os crachás que cada um carregava, mas sim de acordo verdadeiramente com os países de origem de cada um. Aqui também pude experimentar um papel diferente, que nunca tinha desempenhado antes: o de Diretor de Logística, cuidando das encomendas, do corpo de voluntários no evento, e do transporte e hospedagem de todos os convidados.
Ao redor de todo o campus, constantemente há um número enorme de eventos acontecendo, todos organizados inteiramente por alunos
Aqui no colégio, quase tudo é organizado inteiramente pelos próprios alunos, e a conferência MUN não é exceção – o Secretário Geral que fez o discurso de encerramento é um dos meus melhores amigos, e é com o Diretor Financeiro da conferência que eu geralmente me junto para completar as listas de exercícios de Química.
Desde fevereiro, quando se iniciaram os processos seletivos para o conselho executivo, até setembro, foram sete meses de incessantes reuniões de madrugada, trocas de e-mails e dores de cabeça. É sim trabalho duro, sério e de alta responsabilidade, mas é justamente aí que acontece a maior parte do aprendizado aqui: no contato real com deveres e objetivos concretos, que brotam do nosso próprio interesse. O resultado sempre vale a pena, e é impossível não se sentir realizado ao final de cada evento, seja uma série de palestras, uma conferência intercolegial, uma competição esportiva… As possibilidades são inúmeras, e aqui acontece de tudo, vindo sempre das mãos dos próprios alunos.
Ao redor de todo o campus, constantemente há um número enorme de eventos acontecendo, todos organizados inteiramente por alunos que são completamente apaixonados por tudo que fazem. Nessas horas o coração sempre se divide entre o acadêmico e os projetos pessoais, mas é os alunos daqui são acostumados com esse conflito. É verdade que, ao final do dia, não conseguimos de fato resolver o problema do desarmamento nuclear no Oriente Médio, ou achar uma direção concreta e positiva para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, mas não há dúvida de que tudo que fazemos aqui é bem real e carrega sempre uma dose imensa de paixão e comprometimento. O desejo de aprender mais e se desafiar está sempre presente em todos os cantos do campus.
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Sobre o autor – O paulistano Lucas Sato teve uma educação primária baseada em muita história em quadrinhos. Assim, aos seis anos tomou gosto pelas letras e começou a escrever por hobby. Costuma brincar que é “astrônomo de quintal” e “filósofo de telhado”, com uma lista de interesses que vai de política a jardinagem. Dando aulas de inglês a crianças carentes, descobriu na Educação uma paixão. Hoje, cursa o ensino médio na Índia, no Mahindra United World College (UWC) – um concorridíssmo colégio internacional que reúne estudantes de vários países e tem como missão promover a paz entre os povos.
*Foto: Lucas (o 1º à esquerda, no alto) com seus colegas do Mahindra United World College (UWC)
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