Por Claudia Gasparini, de Exame.com
Ano após ano, Harvard aparece em rankings internacionais como a melhor e mais prestigiada universidade do planeta.
Fundada em 1636, é a instituição de ensino superior mais antiga dos Estados Unidos e coleciona ex-alunos ilustres como Barack Obama, Bill Gates e Mark Zuckerberg. Com tantos atrativos, é natural que a universidade seja cobiçada por estudantes do mundo inteiro.
Entre os brasileiros, esse interesse só tem aumentado. Segundo dados da universidade, no ano letivo 2010-2011, havia 62 estudantes do país em Harvard. Hoje são 117 – e esse número segue crescendo.
O caminho até a admissão, porém, é difícil: a instituição é famosa por aplicar processos seletivos rigorosos, que exigem muito mais do que um excelente desempenho acadêmico do candidato. Dez brasileiros aceitos em Harvard em 2015 contaram a EXAME.com quais os fatores que mais contribuíram para sua aprovação na universidade. Confira:
Camila Kataguiri, 26 anos
Cidade natal: São Paulo (SP)
Curso em Harvard: MBA na Harvard Business School
Qual foi a maior dificuldade do processo seletivo? “Não basta ter um histórico acadêmico brilhante ou uma nota excepcional no teste de admissão; você precisa ter atividades extracurriculares, acumular experiências desafiadoras e mostrar espírito de liderança”, explica Camila. “Encontrar tudo isso com apenas 26 anos foi o meu grande desafio”.
O que mais contribuiu para sua aprovação? Aluna de “notas normais” na faculdade, Camila diz que seu grande diferencial foram as atividades extracurriculares. “Sempre fui muito esportista, cheguei a praticar 8 modalidades ao mesmo tempo e fui capitã de alguns times”, conta. Além disso, ela diz que suas experiências profissionais no Deutsche Bank e na Janos Holding fizeram brilhar os olhos dos avaliadores.
Rafael Andrade, 28 anos
Cidade natal: Limeira (SP)
Curso em Harvard: Master of Laws (LLM) na Harvard Law School.
Qual foi a maior dificuldade do processo seletivo? O maior obstáculo foi a falta de tempo para a preparação. “Estava trabalhando a todo vapor quando decidi me candidatar”, diz Rafael. “Só tinha tempo para estudar de madrugada ou no fim de semana”.
O que mais contribuiu para sua aprovação? Reunir características raras em outros candidatos foi o trunfo de Rafael. “Harvard gosta de montar turmas diversas, então é bom ter algo de único no seu perfil”, explica. “No meu caso, contou muito minha pesquisa acadêmica sobre fusões e aquisições, uma área pouco desenvolvida pelos meus concorrentes”.
João Guarisse, 27 anos
Cidade natal: Porto Alegre (RS)
Curso em Harvard: MBA na Harvard Business School
Qual foi a maior dificuldade do processo seletivo? “Meu maior desafio foi parar para pensar nos meus pontos fortes, objetivos de vida, exemplos de liderança”, conta João. “Não estamos acostumados a processos seletivos assim nas faculdades do Brasil”.
O que mais contribuiu para sua aprovação? Contar uma história pessoal coerente e autêntica é o segredo para cativar Harvard, afirma João. “Eu mencionei que era nerd e gostava de videogame, por exemplo, o que soou genuíno, provou que eu não estava interpretando um personagem”, diz ele. Experiências de liderança e participação em projetos internacionais também contaram pontos a favor do estudante.
Arthur Lopes, 18 anos
Cidade natal: Curitiba (PR)
Curso em Harvard: Graduação (curso só será escolhido após o 3º semestre)
Qual foi a maior dificuldade do processo seletivo? O processo é extremamente diferente do vestibular. A parte mais difícil foi o ensaio pessoal, um texto de até 650 palavras com tema livre. “Além da dificuldade de escolher um assunto, reescrevi tudo seis vezes até ficar satisfeito”, conta o estudante.
O que mais contribuiu para sua aprovação? Arthur tem uma história de vida singular: foi morar sozinho aos 14 anos, no Reino Unido, para cursar o ensino médio. “A escolha de sair de casa tão cedo para estudar a 10 mil quilômetros de distância foi completamente minha, meus pais nunca me forçaram a nada”, diz ele. “É essa individualidade de pensamento, associada com excelência acadêmica e dedicação a projetos pessoais, que universidades como Harvard querem”.
Cecília Pessanha, 26 anos
Cidade natal: Rio de Janeiro (RJ)
Curso em Harvard: mestrado em políticas públicas na Harvard Kennedy School of Government.
Qual foi a maior dificuldade do processo seletivo? Os ensaios foram a parte mais difícil do processo. Para Cecília, conseguir descrever toda a sua história e seus objetivos profissionais de forma clara e sucinta foi um exercício e tanto de introspecção. “Além disso, muitas vezes é difícil soar autêntica em uma folha de papel”, afirma.
O que mais contribuiu para sua aprovação? Provar que estava alinhada com a missão da escola foi fundamental. A estudante também acredita que se diferenciou da concorrência porque conseguiu mostrar como poderia contribuir para a comunidade caso fosse aprovada.
Vitor Moutinho, 33 anos
Cidade natal: Belém (PA)
Curso em Harvard: Mestrado em epidemiologia do câncer na Harvard School of Public Health.
Qual foi a maior dificuldade do processo seletivo? A falta de tempo para se preparar foi o maior empecilho para Vitor. “Eu fazia especialização, então minha rotina era atender pacientes e fazer cirurgias de dia e estudar à noite”, conta. “Sei que é difícil comparar, mas entendo quando as mães falam sobre dupla jornada”.
O que mais contribuiu para sua aprovação? O apoio de amigos brasileiros e as bolsas de estudo da Fundação Lemann são os fatores lembrados pelo médico. Ele também diz acreditar em “sonhos impossíveis”. “O povo brasileiro é extremamente talentoso e inteligente, precisa colocar em prática seus planos”, diz Vitor.
Erick Ribeiro, 31 anos
Cidade natal: Niterói (RJ)
Curso em Harvard: Master of Laws (LLM) na Harvard Law School.
Qual foi a maior dificuldade do processo seletivo? “O maior desafio foi atravessar todo o processo um pouco ‘no escuro’, já que não existe nenhum guia explicando o que cada universidade gostaria de ouvir”, explica. “Aprendi que o importante é ser autêntico”.
O que mais contribuiu para sua aprovação? “Acho que a minha experiência profissional contou muito para os avaliadores”, explica Erick. “Tive muito contato com a prática do setor público, que será justamente o foco dos meus estudos em Harvard”.
Maria Júlia Spínola, 25 anos
Cidade natal: São Paulo (SP)
Curso em Harvard: MBA na Harvard Business School
Qual foi a maior dificuldade do processo seletivo? O principal desafio foi se preparar para o GMAT (Graduate Management Admission Test), um dos exames aplicados por Harvard. “Eu queria tirar uma nota alta, mas estava trabalhando num banco de investimentos na época’”, conta. “Conciliar o trabalho com os estudos foi extremamente difícil”.
O que mais contribuiu para sua aprovação? Maria Júlia diz que sempre foi muito dedicada ao trabalho e aos estudos. “Além da minha experiência profissional, minhas notas altas na faculdade e o fato de ter me formado com honra ajudaram muito”, explica.
Fernanda Muzzio, 29 anos
Cidade natal: São José dos Campos (SP)
Curso em Harvard: MBA na Harvard Business School
Qual foi a maior dificuldade do processo seletivo? A etapa das provas foi a mais estressante para Fernanda. “Apesar da preparação, eu não consegui melhorar significativamente minha nota do GMAT (Graduate Management Admission Test) e refiz a prova algumas vezes, o que me consumiu muito tempo”, lembra.
O que mais contribuiu para sua aprovação? Fernanda acredita que seu diferencial foi a experiência com gestão de pessoas. “Antes do MBA, trabalhei por cinco anos gerenciando equipes direta ou indiretamente”, explica. Ela também menciona o apoio de seus empregadores, fundamental para conseguir conciliar a rotina de trabalho na empresa com o processo seletivo.
Arthur Aguillar, 23 anos
Cidade natal: São Paulo (SP)
Curso em Harvard: MPA/ID na Harvard Kennedy School of Government.
Qual foi a maior dificuldade do processo seletivo? O primeiro desafio foi montar uma estratégia para a sua candidatura, isto é, o que dizer nas redações, quais aspectos da sua história pessoal destacar, quais disciplinas mais estudar para os exames. “Outro grande desafio foi ter paciência com a burocracia do processo”, comenta.
O que mais contribuiu para sua aprovação? Para Arthur, foi fundamental ter participado projetos de desenvolvimento econômico em diversas instituições internacionais. “Trabalhei com instituições como a London School of Economics (LSE) e me envolvi com projetos no Brasil e em Moçambique”, conta. Ele também menciona o apoio de chefes e professores, que serviram como “fiadores” de sua candidatura nas cartas de recomendação.
Este texto foi originalmente publicado em Exame.com
*Foto: Arthur Lopes em Harvard / Crédito: divulgação
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