“Países ricos causaram o problema do colapso climático mas não podem resolver por conta própria, eles precisam dos países emergentes e pobres para isso”, afirma o professor da Harvard Business School e economista Forest Reinhardt. A fala aconteceu em evento de comemoração dos 30 anos da Fundação Estudar no último dia 11. De acordo com o professor, para além das questões ambientais, o colapso climático é também “um grande problema político”.
No evento, ele explicou como o principal gás causador do efeito estufa é o dióxido de carbono (CO2), produzido principalmente em processos industriais ou na queima de gás natural – atividades que acontecem em maior quantidade nos países mais ricos. “A história do desenvolvimento econômico é a história da energia, ela é central para a prosperidade e nós precisamos dela”, afirma Forest.
Industrialização e emissões de CO2
De acordo com o professor, os países que possuem processos de industrialização mais desenvolvidos e antigos foram os que mais emitiram gases de CO2 na atmosfera até hoje. “O que significa ser rico? Significa basicamente que você tem muita energia disponível para fazer as coisas chegarem até você, ir aonde quer ir, transformar objetos de uma forma que você não gosta para uma que gosta”.
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No evento, Forest também analisou as propostas de combate ao aquecimento global em andamento, debatidas em eventos como a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP – 26), que ocorreu entre outubro e novembro. Segundo ele, as propostas não encaram o problema como a emergência que representa. “Em Glasgow, há um grupo de pessoas fazendo promessas umas para as outras sobre o que seus netos vão fazer. Isso não faz sentido”.
Além disso, também não consideram importantes questões políticas envolvidas. “Os países ricos estão, basicamente, repreendendo os não tão ricos porque temem que todos falhem em fazer o que os ricos falharam em fazer”. De acordo com Forest, “nós (nações ricas) estragamos tudo, colocamos todo esse CO2 no ar” e hoje precisamos que todos os países “se comportem” para não agravar a situação.
Mudar a forma como se produz energia
Durante o evento, o professor explicou como a preocupação de governos e indústria ainda está mais relacionada ao custo financeiro da produção do que ao impacto ambiental. “Hoje, temos um sistema automatizado estruturado na produção de energia barata e que também emite grandes quantidades de CO2, mas não podemos mais manter os dois”.
“Não há uma solução simples para o problema climático, todas as opções custam dinheiro” e exigem mudanças estruturais na produção de energia. Segundo ele, a única forma de realizar essa mudança de forma eficiente é mantendo uma visão holística do problema.
O desafio do combate ao Colapso Climático
Para construir uma agenda de combate ao colapso climático efetiva, é necessário “analisar a produção de energia e meio ambiente em um contexto político e social mais amplo”, explicou. As estratégias têm que considerar questões, como custos para construção de cada um dos meios de produção de energia, como serão aplicadas as taxas e impostos sobre lucro e emissão de poluentes, como será o fluxo de caixa, durabilidade e necessidade de manutenção. “Algumas dessas coisas variam de país para país”, explica. Nesse cenário, cada um desses fatores precisa ser considerado a longo prazo – para depois de 2050.
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“Se não entendermos como a microeconomia básica da indústria é afetada por questões de engenharia e tecnologia, nós faremos escolhas ruins”, como optar por meios de produção de energia que são mais caros do que parecem ou dispensar outros que são mais econômicos e menos poluentes.
Considerar contextos políticos e sociais
Exigir a redução de emissão de CO2 forma igual para todos os países encobre uma série de “injustiças sociais”, uma vez que nações mais industrializadas consomem muito mais energia há décadas enquanto outras mais pobres estão se modernizando hoje.
Para alguns países, diminuir as emissões de CO2 per capita significaria “substituir um voo por uma viagem menos poluente”, enquanto para outras regiões, essa redução “pode atingir uma família que acabou de receber energia elétrica em casa pela primeira vez”. Segundo o professor, todos esses fatores devem ser levados em consideração na hora de construir a agenda.
“É incrivelmente difícil esse desafio que estamos enfrentando”, explica. Manter os níveis de emissões de CO2 não é suficiente, para atingir resultados é preciso reduzi-las significativamente. Essa redução é algo que “nunca aconteceu na história da Terra, talvez aconteça, mas ainda é muito incerto como”.
Considerar as emissões de CO2 no dia a dia
Além das mudanças estruturais na forma de produzir energia em grande escala, o professor explica que manter uma comunicação aberta com a sociedade civil e incluí-la nas estratégias é fundamental. Apresentar para as pessoas quanto CO2 uma atividade despeja no céu é um dos caminhos possíveis, afirma. “Isso obrigaria as pessoas a internalizar esses processos” e compreender os custos para o meio ambiente de manter cada hábito.
Para exemplificar essa relação, o professor perguntou para os ouvintes “qual é a primeira coisa que faz ao acordar?”, e respondeu “olhar o celular”. Segundo ele, quando realizamos atividades como essa, não compreendemos toda a energia consumida ao longo de todos os processos até chegar a esse simples hábito.
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Nesse caso, internalizar o problema seria deixar de ver um celular “apenas como um retângulo plástico” mas também como o resultado de processos que emitem CO2. De acordo com o professor, essa mudança permitiria que “os preços e relações com os bens passariam a refletir as causas sociais e ambientais da produção e consumo desses bens”.
Apesar de desafiador, há caminhos possíveis. Segundo Forest, um ponto favorável para a indústria é que, para o consumidor, a forma como a energia é produzida pode variar. “Ninguém de fato quer comprar um determinado tipo de energia, nós queremos os serviços que a energia permite e isso abre muitas possibilidades”. “Se encontrarmos formas melhores de distribuir bens e serviços para as pessoas e que usem menos energia, então deveríamos fazer”, conclui.