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Planejamento é segredo do sucesso da China, diz estudante da melhor universidade chinesa

“Muita gente fala sobre a China mas pouca gente entende a China“, conta Susana Sakamoto Machado. Ela cursa um mestrado em Relações Internacionais na Tsinghua, a melhor universidade chinesa e uma das 20 melhores do mundo. Aprovada no famoso programa Schwarzman Scholars, Susana é bolsista da edição 2020 do Programa Líderes Estudar, que está com inscrições abertas até o dia 5 de abril. Ela conversou com o Estudar Fora e falou sobre educação, cultura e estudos na maior potência asiática e segunda maior economia do mundo.

“Planejamento é a palavra-chave para falar de China“, explica. A estudante conta que a cada 5 anos o país realiza uma grande atualização do chamado “Plano Quinquenal”, um programa nacional de desenvolvimento que estrutura os principais objetivos a serem atingidos nos 5 anos seguintes. Esse é um dos segredos da rápida ascensão da economia chinesa, que há anos chama a atenção de todo o mundo: “tudo é planejado”.

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Formada em Relações Internacionais na Unesp, a primeira vez que Susana pisou em solo chinês foi durante a graduação, para realizar um curso de verão sobre os BRICS (grupo de cooperação econômica formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) na Universidade Fudan.

O programa oferecia um intercâmbio entre jovens dos BRICS para irem à Xangai estudar formas de cooperação internacional. Foi durante esse intercâmbio que Susana começou a entender a dimensão e importância da China no cenário mundial. A rápida ascensão econômica do país pode trazer aprendizados a outras economias emergentes, como o Brasil.

Educação e Cooperação Internacional

Susana enfatiza como entender os processos que levaram ao sucesso da economia chinesa, como desenvolvimento tecnológico e infraestrutura, podem ser importantes para alavancar a economia brasileira. Segundo ela, “Brasil e China fazem parte dos BRICS e são duas potências em suas regiões, a gente tem coisas em comum”.

Embora tenha feito o intercâmbio em Xangai durante a graduação, Susana conta que sentiu “muita falta” de estudar sobre a China durante a formação. O país é o maior parceiro econômico do Brasil e também a potência mundial em maior ascensão atualmente, por isso muito estudada internacionalmente. “Acredito que existe uma grande defasagem de pessoas que realmente entendem a China e o potencial de cooperação com nosso país”, afirma.

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Uma das consequências disso é o baixo número de estudantes do Brasil em programas chineses de renome e com foco na construção de redes internacionais, como o Schwarzman Scholars. “Mais brasileiros precisam ocupar os espaços onde decisões são tomadas, como essa iniciativa”, enfatiza Susana.

Mestrado com foco em cooperação internacional

O programa de mestrado Schwarzman Scholars tem foco profissional. É voltado para preparar liderança e trocar experiências de profissionais de todo o mundo para conseguirem entender, trabalhar conhecimentos e relacioná-los com a economia e cultura chinesa. De acordo com Susana, o slogan do programa é: “a China não é mais um curso opcional no século XXI”.

O cronograma de estudos inclui disciplinas fixas de relações internacionais e aulas opcionais, em que os alunos podem escolher as áreas de especialização. “Os professores são de altíssimo nível”, conta Susana, que chegou a ter aula com embaixadores, ex-presidentes e pessoas do alto escalão da ONU (Organização das Nações Unidas).

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A estudante explica que “é um programa muito intenso e as aulas são puxadas, mas ao mesmo tempo permite que os alunos montem uma grade curricular própria”, que é algo positivo. “Um colega chegou até a estudar História do Cinema da China”, conta. Segundo ela, o ponto mais forte é o convívio “com pessoas de áreas muito diferentes e muito capacitadas”.

“Esse programa aproxima pessoas com culturas extremamente diferentes de maneira profissional e pessoal”, conta Susana. São, ao todo, 154 Schwarzman Scholars por ano. Segundo ela, os alunos possuem trajetórias profissionais diferentes mas “têm aspectos e valores compartilhados, como fazer a diferença – seja ela qual for a percepção que cada um adota”. São “pessoas que acreditam no valor da troca e da cooperação internacional”.

Entretanto, apesar de ser um programa famoso internacionalmente, ainda há pouca presença de estudantes do Brasil nas turmas. “Eu adoraria que mais brasileiros participassem desse programa, é uma porta muito importante para a carreira, para potencializar o impacto e acelerar a curva de crescimento”.

A Tsinghua é a universidade mais disputada do país e muito admirada entre os chineses.
“Quando entro em alguma loja com um boné ou crachá da faculdade, os chineses olham e parabenizam”, conta Susana. “É incrível o respeito que eles têm para a educação”.

Cooperação Brasil e China

Sobre a importância do planejamento para os chineses, entre os focos do Plano Quinquenal estão  o desenvolvimento e manutenção de políticas públicas de longo prazo. Uma das iniciativas adotadas é o chamado  “Plano de 10 Anos para o Desenvolvimento da Juventude”, lançado pelo Governo Chinês em 2017 e que serve como um documento guia com foco nas 10 grandes áreas de investimento que impactam a juventude. 

No mestrado, este é o objeto de estudo de Susana, que sempre se interessou em políticas voltadas para a juventude. Hoje, ela analisa formas de “maximizar esse capital humano para desenvolver jovens lideranças e, consequentemente, o Brasil“. “A minha intenção é trazer melhores práticas para os jovens brasileiros, comparando com esse plano de desenvolvimento da juventude chinesa”.

Ser estudante na China

Para alunos que não sabem falar o mandarim, idioma oficial da China, o Schwarzman Scholars oferece a oportunidade de estudar a língua durante o curso de mestrado. Foi durante essas aulas que Susana ganhou o nome no idioma chinês pelo qual é chamada em Pequim: “Mashanshan”, ou 马珊珊 , que significa “coral” e “vida”. “Foi a minha professora que me deu esse nome, por aqui a gente costuma utilizar o nome em mandarim”.

Em relação ao dia a dia nas cidades chinesas, ela conta que “ninguém anda com carteira e bolsa, isso não existe aqui”. Todas as principais tarefas rotineiras, como comprar coisas, utilizar redes sociais e, no caso dos intercambistas, carregar o passaporte, são feitas através de um aplicativo unificado, o WeChat.

Outra curiosidade que ela conta é que a comida, por lá, é “bastante apimentada” e as alimentações são vistas como um momento coletivo e de compartilhamento. “É muito difícil pedirem pratos individuais, geralmente as refeições são servidas para todos na mesa”, conta.

Chegando na China durante a pandemia de COVID-19

“É muito difícil para qualquer pessoa conseguir entrar na China agora, meu caso foi uma exceção”, conta Susana, que lamenta que irá se formar mas seus pais não poderão visitá-la para acompanhar a formatura devido às restrições da pandemia. Segundo ela, o país ainda não está fornecendo visto com facilidade.

A China adotou uma das políticas mais fortes de isolamento social do mundo, que reduziu significativamente o número de mortes por COVID-19 desde 2020 e a colocou entre as nações com menores taxas de mortes por milhão. As testagens, o acompanhamento dos doentes e dos cidadãos que entraram em contato com quem testou positivo, assim como a obrigatoriedade de entrar em isolamento social é feito tudo pelo WeChat. “A China avançou muito no controle da COVID-19 porque tem esse olhar de perto no monitoramento”.

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Quando chegou na China, Susana precisou fazer uma quarentena obrigatória de 15 dias em um hotel em Xangai. “Eles levavam comida no quarto com aquelas roupas de astronauta”, conta. Depois do isolamento, foi necessário fazer um período de observação de uma semana e só depois ela pôde viajar para Pequim e começar os estudos.

A Líder Estudar explica que as cidades chinesas contam com uma população muito grande e concentrada, então essas medidas de isolamento se tornam ainda mais necessárias para diminuir os números de mortes. “A China é um dos lugares – senão o lugar – mais seguro para estar nesse momento em que estamos vivendo, a gente não usa máscara na rua e circulamos livremente na universidade”, graças ao sucesso das medidas de isolamento.

Sobre o Programa Líderes Estudar

“Bolsas de estudos sempre fizeram muita diferença na minha trajetória”, conta a estudante, que já participou de uma conferência de direitos humanos na Noruega, fez o intercâmbio de verão em Xangai durante a graduação e foi para a Índia, tudo com bolsas de estudo.

Sobre o programa Líderes Estudar, ela afirma que “iniciativas como essa fazem muita diferença, porque permitem que jovens que não teriam a condição de adquirir um conhecimento, seja fora ou dentro do Brasil, que vai reverter em impacto positivo não seria possível sem o programa”.

O programa Líderes Estudar 2022 está com inscrições abertas e chegando à etapa final. Confira neste link (disponível aqui) mais informações sobre a iniciativa e como participar.

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