Rafael Carvalho, do Na Prática
Em um artigo recente, a revista britânica The Economist chamou atenção para uma mudança interessante no cenário da educação executiva norte-americana: entre os alunos de MBA das melhores escolas, o interesse por bancos diminuiu, e a vontade de seguir carreira em consultoria cresceu.
Segundo a publicação, cerca de 30% desses alunos decide trabalhar nesse mercado. Vale lembrar que, como estamos falando das escolas de negócios mais tradicionais do mundo, os egressos desses cursos não teriam dificuldades em encontrar emprego em outras áreas.
Em Booth, por exemplo, as quatro maiores consultorias estratégicas (The Boston Consulting Group, McKinsey, Bain e A. T. Kearney) recrutaram um quinto dos 472 alunos. A escola é considerada a melhor instituição de MBA pela mesma publicação.
No Brasil, as grandes consultorias têm poucas portas de entrada e costumam contratar novas pessoas para a equipe em três momentos: universitários, formados há no máximo dois anos, e egressos de cursos de MBA – o que faz com que muitos profissionais seniores acabem realizando o curso exatamente com a intenção de migrar para consultoria.
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Carreira acelerada
Foi enquanto cursava MBA em Kellogg, a famosa escola de negócios da Universidade Northwestern (EUA), que a brasileira Bruna Keiserman, hoje gerente de Marketing da Amazon, foi recrutada para o escritório de São Paulo do The Boston Consulting Group (BCG).
“Quando eu cheguei no MBA, não sabia exatamente em que indústria eu pretendia trabalhar, mas tinha na cabeça que consultoria não era uma opção”, ela comenta, explicando que no seu caso a principal motivação para realizar o curso era a vontade de impulsionar uma carreira internacional. Foi um colega na universidade, consultor do BCG, que percebeu o potencial de Bruna para a área e sugeriu que ela reconsiderasse essa possibilidade de carreira.
Bruna seguiu o conselho do colega e decidiu conhecer melhor a profissão por meio de um summer internship, estágio de verão durante as férias do MBA. Os três meses que passou no BCG de São Paulo foram suficientes para que ela se apaixonasse por consultoria. A oferta para começar full time no mesmo escritório veio logo após a conclusão do estágio.
Assim, Bruna começou sua carreira como consultora em 2013, quase dez anos depois de ter se formado em Administração de Empresas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para ela, ingressar em uma consultoria após o MBA tem vantagens e desvantagens. Por um lado, a escalada na carreira começa inevitavelmente mais tarde: “Pessoas da minha idade que entraram no BCG logo depois da faculdade já estavam dois níveis acima de mim”, ela conta.
Como eu já tinha estado do outro lado, eu entendia como o cliente se sentia, quais os possíveis empecilhos ou desafios
Por outro, Bruna considera que os anos que passou trabalhando na indústria lhe renderam uma maturidade bem-vinda. “O sucesso de alguns projetos de consultoria também depende da nossa capacidade de convencer o cliente a sair de sua zona de conforto, e essa nem sempre é uma tarefa fácil”, ela conta. “Como eu já tinha estado do outro lado, eu entendia como o cliente se sentia, quais os possíveis empecilhos ou desafios”, complementa.
Segundo ela, apesar de a maioria dos projetos da consultoria envolverem movimentar as diversas engrenagens da empresa cliente, “quem tem pouca experiência de trabalho em uma empresa nunca viveu na pele o desafio que é ser a força motriz dessas engrenagens”.
Em outras palavras, ela sabia melhor como o cliente funciona e quais desafios podem surgir na implementação de ações estratégicas propostas por uma consultoria, e esse é um conhecimento valioso.
Adaptação
Das ferramentas do dia-a-dia, no entanto, pouca coisa de suas experiências anteriores foi aproveitada – ela havia trabalhado nas áreas de marketing e planejamento estratégico de setores tão variados como telecomunicações e siderurgia.
O consultor pós-MBA, quando pega o primeiro projeto se sente de novo no seu primeiro emprego
Segundo Bruna, o mesmo treinamento inicial intenso oferecido para os recém-formados também ocorre com os egressos de cursos de MBA. No jargão da profissão, esse é o momento em que se aprende o tool kit de consultoria.
“Essa parte de aprender o modo de pensar de um consultor é até mais difícil para quem teve uma carreira anterior, porque você tem que se desprender da forma como estava acostumada a trabalhar”, ela explica. “O consultor pós-MBA, quando pega o primeiro projeto se sente de novo no seu primeiro emprego”, acrescenta, admitindo que foi essa a sensação durante os seus três primeiros meses como consultora.
A profissão, no entanto, foi um passo da busca de Bruna pela carreira que mais se alinhava com sua personalidade. “Antes de entrar para consultoria, eu já tinha feito mestrado e trabalhado em três empresas diferentes, sou uma pessoa curiosa e motivada pela oportunidade de estar sempre aprendendo”, comenta. No BCG, a variedade de projetos com que trabalhava tornava esse aprendizado intenso e constante.
Benefícios Financeiros
Se considerarmos que a maioria dos programas de MBA emprega fortemente o método de estudo de casos, não é de se surpreender que as consultorias busquem ativamente esses alunos para fazer parte de seus times. A resolução de cases, afinal de contas, está bastante relacionada ao trabalho do consultor.
A formação é tão valorizada que grande parte das consultorias incentiva que seus funcionários realizem um MBA, em alguns casos até mesmo financiando o curso, mesmo que isso signifique abrir mão do profissional durante um ou dois anos para que ele se dedique aos estudos. A oferta para voltar ao emprego é garantida, e normalmente marca a transição para o cargo de consultor.
No caso de quem entra em uma consultoria para o summer internship e recebe oferta de full time (oferta para trabalhar na empresa quando concluir o MBA), também existe a possibilidade de a empresa financiar parte do curso, além de oferecer um signing bonus – bonificação financeira concedida como prêmio pela contratação.
Foi o que ocorreu com Bruna. Para pagar o MBA em uma das dez melhores escolas dos Estados Unidos, com preços em torno de 60 mil dólares por ano, ela contou inicialmente com um financiamento realizado junto a própria universidade e, após sua contratação estar acertada, também teve apoio financeiro do BCG.
Esta matéria foi originalmente publicada pelo portal Na Prática, iniciativa da Fundação Estudar para potencialização de carreiras.
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