Qual faculdade se faz para ser programador? A resposta é: várias. De Engenharia de Software, Ciência da Computação, Sistemas de Informação, Tecnologia da Informação até mesmo nenhuma – o aprendizado autodidata acompanha a carreira de todo bom programador. “Não tem como estar na área de tecnologia esperando que tudo caia para você em uma aula, é algo muito abrangente”, explica Camila Muniz Izidoro, engenheira de software sênior na Nubank.
Uma parcela desses profissionais começa a estudar programação de forma autodidata muito antes de iniciar a formação superior, quase sempre motivada por pura curiosidade. Esse foi o caso de Camila, que desde criança teve um computador dentro de casa e já naquela época adorava explorar “tudo que tinha dentro da máquina”, de jogos a sites. “Passava boa parte do meu dia mexendo com diversas coisas e cada vez mais curiosa”.
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Mais tarde, com 15 anos e bastante incentivo dos pais, Camila iniciou um curso técnico em informática no sistema de ETECs (Escola Técnica Estadual de São Paulo). Foi nesse momento que ela descobriu o “conhecimento infinito” do universo tec e a abrangência dos conteúdos dados em sala de aula, que muitas vezes se distanciam da imagem tradicional que uma carreira em programação carrega. No técnico, “não imaginava que era uma coisa totalmente diferente, que eu ia ver muito mais hardware”, conta Camila.
A necessidade de se atualizar e aprender por conta própria acompanha toda a carreira do programador. “Todas as pessoas que fazem parte do mundo tech nunca param de estudar”. Segundo ela, “a educação formal muitas vezes fornece para a gente o básico, como funciona por trás da máquina, a lógica de programação, de onde vem os conceitos matemáticos”, mas no momento que vai aplicar, como são infinitas situações, é necessário ser também autodidata.
A boa notícia é que “hoje em dia a gente tem muito recurso para conseguir buscar e aprender sozinho”. Um desses caminhos está acessível, inclusive, aqui no nosso portal: o curso CC50 de introdução à ciência da computação, da universidade de Harvard, está inteiramente traduzido e disponível gratuitamente através deste link (disponível aqui) para quem quer começar a estudar computação.
Não precisa ser viciado em jogos para gostar de programação
Outro profissional da área de programação que começou a estudar desde criança é Igor Marinelli, CEO e cofundador da TRACTIAN, uma Startup de desenvolvimento de softwares com foco em soluções rápidas e manutenção que foi reconhecida no 100 Startups to Watch em 2021 pela revista Pequenas Empresas Grandes Negócios.
Ele conta que começou a estudar programação quando tinha cerca de 8 anos e, desde então, foi gradualmente avançando na densidade do conteúdo estudado. Ao contrário de uma grande parcela dos profissionais de programação, Igor conta que nunca foi muito viciado em jogos. Começou criando sites simples e depois foi para sistemas mais complexos.
Depois de aprender as bases da programação, ele expandiu os estudos para outros sistemas, como os programas de edição de imagem e vídeo do pacote Adobe. “Não me isolei apenas na programação porque quando fazia projetos queria fazer de tudo, como planejar as telas”. Na adolescência, Igor chegou a fazer trabalhos para clientes que, na maioria das vezes, não sabiam da idade dele e acreditavam se tratar de um profissional mais velho.
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Foi uma entrada no mercado de trabalho autodidata “ baseada em fóruns techoverflow” e “de procurar o que estava com dificuldade” e aprender. Quando entrou no curso de Engenharia da Computação da Universidade da California, Berkley, teve muito pouco contato com a área de programação em si. Nas aulas, ele conta que “projetava muito hardware, fazia muita eletrônica e cálculo”. Para ele, ser autodidata é algo presente em toda a área de tecnologia, mesmo que você faça cursos de formação.
Sobre “codar” – sinônimo de construir um código de programação – , ele conta que é a coisa que mais gosta de fazer, apesar de hoje em dia trabalhar menos com essa parte da carreira. “Eu esquecia de comer, almoçar, jantar, e quando via era 4h da manhã e ainda estava resolvendo o bug, tinha pavor de ir dormir sem o código funcionar”.
Soft Skills importam
Apesar de o autodidatismo ser uma parte importante para todo bom programador, ter uma educação formal traz outros aprendizados fundamentais para a carreira. “A graduação traz uma coisa que só no trabalho individual não é possível ter, ela traz os soft skills”, explica Igor. Segundo ele, “não é possível forçar” esse tipo de aprendizado que exige a exposição às múltiplas “situações que encontra na faculdade”.
“É importante não só para construir uma rede de amigos e pessoas para trabalhar junto, mas também para desenvolver resiliência e articulação que são importantes para o desenvolvedor”. Um curso bem estruturado também ensina a “criar coisas novas, a ter um olhar crítico para aquilo que é passado e para o desenvolvimento da própria carreira”.
“Conforme o profissional vai subindo na carreira, é cada vez mais importante ter desenvolvido esse lado de soft skills”, explica Camila. Além de ensinar a trabalhar em equipe, ela explica que é importante ter em mente que “a tecnologia é sempre um meio, não um fim. O fim é seu negócio, seu cliente”. De acordo com a engenheira, o bom profissional sempre está “muito conectado com a área” para garantir que o sistema vai ser usado da melhor forma possível por todos.