Por Claudia Gasparini, de Exame.com
Na hora de escolher um MBA no exterior, muitos brasileiros miram os Estados Unidos ou a Europa – dois berços das teorias e modelos mais consagrados do mundo dos negócios. No entanto, há cada vez mais adeptos de um destino menos tradicional: a China.
Não é para menos. O MBA executivo oferecido pela chinesa Tsinghua University em parceria com a Insead, por exemplo, foi considerado o melhor do mundo em 2015, segundo o jornal britânico “Financial Times”.
Outras escolas do país asiático, como a HKUST Business School e a Ceibs (China Europe International Business School), também aparecem há anos na lista dos 20 melhores MBAs globais do FT.
Embora a economia chinesa esteja passando por uma preocupante desaceleração, brasileiros que decidiram fazer MBA no país não se arrependem de sua escolha.
Aprender a negociar com as empresas locais, conhecer uma cultura completamente diferente da brasileira e ter contato com a língua mais falada do mundo – ainda que geralmente aulas sejam oferecidas em inglês, e não em mandarim -, são algumas das maiores recompensas trazidas pela experiência.
Veja a seguir o que 4 brasileiros que fizeram essa escolha têm a dizer sobre as surpresas, dificuldades e descobertas trazidas pela China:
Estrangeiro ganha o dobro
Há uma demanda enorme pelo trabalho de um estrangeiro, o que faz com que aqui seja um ótimo destino para quem busca uma experiência internacional
A socióloga paulista Beleza Chan, de 29 anos, decidiu fazer MBA na Universidade de Pequim, conhecida como a “Harvard chinesa”, motivada sobretudo por uma questão pessoal: filha de chineses, ela tinha uma curiosidade imensa sobre o país de origem de sua família.
Mas os aprendizados trazidos pela experiência foram muito além do que ela esperava. “Fiquei surpresa em ver como o estrangeiro é bem recebido”, conta a brasileira. “O estilo de gestão chinês costuma ser muito rígido, com pouca atenção à motivação do funcionário, então eles buscam quem possa trazer uma nova cultura, um outro olhar sobre a condução de uma empresa”.
MBA na China: o balanço de 14 meses de estudo, trabalho e viagens
Segundo Beleza, que atualmente trabalha numa startup do setor educacional em Pequim, os salários praticados na China refletem essa preferência: lá, diz ela, quem vem de outro país costuma ganhar o dobro ou até o triplo do que recebe um nativo.
Além do atrativo financeiro, o país oferece muitas oportunidades profissionais. “Há uma demanda enorme pelo trabalho de um estrangeiro, o que faz com que aqui seja um ótimo destino para quem busca uma experiência internacional”, diz.
Na opinião da brasileira, ter um MBA chinês é um diferencial para o currículo de qualquer executivo. “Com essa experiência, você pode se posicionar no mercado como um facilitador das relações entre o Brasil e a China, alguém que tem contatos lá e entende a mentalidade local”, afirma.
Além da censura imposta pelo governo – “você se sente completamente por fora do que acontece no mundo” – Beleza cita como desvantagem a poluição. Segundo o Greenpeace, o nível de qualidade do ar está abaixo do recomendado em quase 300 cidades chinesas, inclusive na capital Pequim.
Networking com o dragão
Foi uma excelente decisão, principalmente porque os professores tinham muita experiência acadêmica e prática
O catarinense Luciano Antonini, de 34 anos, também fez seu MBA na Universidade de Pequim, que oferece diploma duplo com a Vlerick School of Business, da Bélgica.
Não foi a primeira aventura do engenheiro no país asiático: ainda na graduação, ele havia passado um ano na cidade de Zhengzhou para estudar mandarim. Na ocasião, fez três meses de estágio em uma fábrica da Embraco em Pequim.
Em 2010, retornou à China para lá estabelecer, do zero, uma fábrica de componentes para a indústria de compressores. A ideia de fazer um MBA no país nasceu do desejo de aprender mais sobre o mercado e estabelecer parcerias de negócio com os locais.
“Foi uma excelente decisão, principalmente porque os professores tinham muita experiência acadêmica e prática, e estavam atualizados com os cases mais recentes nas mais diversas indústrias”, conta Luciano.
A diversidade é outro ponto positivo citado pelo engenheiro. “As pessoas eram de áreas tão diferentes quanto TV, moda, tecnologia e bancos”, diz. “Havia uma maioria chinesa, mas também colegas de países como Índia, Turquia, Alemanha, França e Itália”.
Como pontos negativos, ele cita o tamanho das turmas, que chegavam a reunir de 50 a 60 alunos por sessão, e a ausência de parcerias entre a universidade e a iniciativa privada para promover e reter talentos.
Feito o balanço da experiência, o programa é perfeito para o executivo que quer desenvolver atividades na China e ampliar o seu networking com o dragão asiático, afirma Fernando.
Cabeça chinesa
O país oriental também foi a escolha do paulista Fernando Oshiro, de 34 anos, engenheiro especializado no setor automotivo. Entre 2010 e 2012, ele cursou o MBA executivo global da University of Southern California, em parceria com a Shanghai Jiao Tong University.
Como a maioria é chinesa e fala mandarim entre si, você precisa se esforçar, buscar contato ativamente, cavar o seu espaço no grupo
A maior recompensa dos seus estudos em Xangai – “uma cidade incrivelmente cosmopolita” – foi a expansão do seu networking. “Fiz muitos contatos, sobretudo com chineses”, conta Fernando, que se impressionou com a quantidade de colegas de MBA que ocupavam altos cargos em grandes empresas ou eram donos de negócios-bem-sucedidos.
O idioma não foi um problema, segundo ele, já que a maioria dos colegas de turma falava inglês. Ainda assim, era necessário um certo jogo de cintura para se aproximar deles. “Como a maioria é chinesa e fala mandarim entre si, você precisa se esforçar, buscar contato ativamente, cavar o seu espaço no grupo”, explica.
Oferecidas em parceria com a Universidade do Sul da Califórnia, as aulas em Xangai eram muito parecidas com as ministradas em Los Angeles. No entanto, havia uma preocupação em adaptar e customizar as explicações e cases para a realidade chinesa.
Segundo o engenheiro, isso contribuiu muito para ampliar sua visão sobre o mercado e, sobretudo, a mentalidade chinesa ao fazer negócios. “Percebi, por exemplo, que eles são bastante pragmáticos e tomam decisões muito rapidamente”, afirma.
A distância do Brasil, tanto cultural quanto geográfica, é um dos maiores desafios para quem faz um MBA na China, segundo Fernando. De sua casa em Sorocaba até a residência em Xangai, ele enfrentou cerca de 36 horas de viagem. É bem longe – o que, para ele, só aumentou as saudades do Brasil.
Portas abertas
Ter contato com os chineses abre muitas portas profissionais em qualquer lugar. Afinal, que país não negocia com eles?
O engenheiro catarinense Esequias Pereira Junior, de 33 anos, trabalha atualmente numa empresa de eletrodomésticos na Nova Zelândia. No seu currículo, a China aparece duas vezes.
A primeira é uma passagem por Zhengzhou em 2005, “numa época em que ninguém falava da China”, para aprender a língua local. Na Embraco, trabalhou como intérprete de chinês, português e inglês. Anos mais tarde, ele voltaria como engenheiro expatriado da mesma empresa. Até 2014, Esequias morou na capital do país.
Sua opção foi pelo MBA da Universidade de Pequim porque pretendia conciliar estudos e trabalho – e o programa oferecido pela instituição permitia dedicação em tempo parcial.
O saldo foi um importante acréscimo do ponto de vista cultural. Na multinacional neozelandesa para a qual trabalha hoje, sua experiência com a diversidade faz toda a diferença. “Convivo com pessoas de todos os continentes, e uso muito do que aprendi em Pequim”, conta.
Para Esequias, viver e estudar no centro das atenções do mundo dos negócios é um grande investimento. “Ter contato com os chineses abre muitas portas profissionais em qualquer lugar”, diz o engenheiro. “Afinal, que país não negocia com eles?”
Este texto foi originalmente publicado em Exame.com
*Na foto, Beleza Chan com colegas do MBA na Univerasidade de Pequim
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