A principal pergunta que passava pela minha cabeça, quando estava próximo da minha graduação em Publicidade e Propaganda, no fim de 2016 era: “E agora?”. Eu tinha muitas dúvidas sobre tudo que tinha construído a nível pessoal e profissional. Também não sabia se meu currículo era bom o bastante para o mercado de trabalho que eu estava prestes a encarar. A minha resposta veio na forma de um intercâmbio social da AIESEC.
Eu nunca deixei passar nenhuma oportunidade de que pudesse tirar algum conhecimento. Quando saí de Arapiraca e me mudei para Maceió, para cursar Publicidade e Propaganda, me joguei em vários desafios que a vida acadêmica ofereceu. Por exemplo, participei na organização de eventos e projetos com colegas de turma, o que me ajudava a colocar em prática o que aprendia nas aulas.
Durante um desses eventos, conheci a história de um intercambista da AIESEC e fiquei curioso sobre a organização. Quando percebi, já estava fazendo o processo seletivo para membro. A AIESEC foi um grande veículo para o meu desenvolvimento pessoal e me deu a chance de viver desafios de “gente grande” e aprender coisas que, somente em sala de aula, eu não teria aprendido.
Fiz parte de organização em Maceió durante quase três anos e, durante o período, trabalhei com finanças, gestão de time, eventos. Também aprendi mais sobre solução de problemas, sobre lidar com a diferença e sobre liderança. Hoje, eu me pergunto: “onde eu teria me desenvolvido tão rápido, em um ambiente tão dinâmico e jovem, pontos que me ajudariam no mercado de trabalho?”.
A decisão de fazer um intercâmbio social
Eu escolhi realizar o intercâmbio social e, nessa modalidade, se trabalha de forma voluntária em uma ONG. Os projetos têm duração de 6 a 12 semanas. Eu, por exemplo, realizei um projeto durante oito semanas na Casa de Meninas, em Bucaramanga, na Colômbia.
Antes mesmo de o avião pousar, muita coisa passava pela minha cabeça: não via hora de começar meu projeto, conhecer a cultura, me jogar em uma experiência que eu sabia que seria transformadora. Nada foi do jeito que eu pensei que seria. E ainda bem! Minha cabeça era pequena demais para imaginar o que estava por vir.
Minha primeira grande barreira era o idioma, com o qual tive contato na escola. Já havia colocado um pouco em prática na AIESEC, mas jamais ficado 24 horas falando em espanhol. Foi, então, maravilhoso me permitir rir dos meus erros tentando falar e ser entendido. Os colombianos eram sempre muito solícitos e simpáticos, esforçando-se para ensinar e compreender. Isso me fez sentir mais próximo deles.
Chegando na ONG, fiquei responsável por criar o setor de marketing, estruturar os processos de comunicação e definição de personas, discurso e posicionamento de marca. Trabalhava, ainda, com redes sociais e divulgação. Além de mim, faziam parte da equipe outro brasileiro, duas peruanas e uma argentina. Foi divertido aprender com a diferença e saber que essa equipe estava junta para fazer a ONG crescer em apenas oito semanas.
Apesar de todos os desafios, voltar para casa era o que mais apertava meu coração. Eu tinha vivido tanta coisa boa, e já não podia mensurar o quanto tinha crescido. De uma coisa eu tinha certeza: eu queria mais.
Um recém-formado como diretor de marketing
O intercâmbio é um tempo que força a viver o novo a todo o momento, mas isso só acontece se você se permitir. A sensação de estar em casa não é mais mesma. E acredito fortemente que é por que você também não é mais o mesmo.
Quando matei a saudade e acalmei o coração, eu só tinha uma certeza: queria algo a mais. Comecei a buscar oportunidades e foi assim que, novamente, a AIESEC me chamou para um desafio maior. Confiante em tudo que já tinha aprendido, me preparei para ser o Diretor de Marketing da AIESEC no Peru.
Trabalhar com pessoas de sete países diferentes – Brasil, Portugal, Peru, Colômbia, Venezuela, Estados Unidos, e Romênia – me tornou uma pessoa muito mais tolerante. Ao mesmo tempo, curioso para entender e aprender com o diferente. Era um contato que dificilmente teria em outro lugar, com personalidades, pensamentos e culturas. Sem dúvida, a palavra mestre para que isso desse certo foi respeito.
Uma vez em Lima, vi que meus desafios eram grandes. Dentre eles, ser responsável por projetar e executar experiências de cliente B2C para a organização, abrangendo 18 comitês locais. Liderar o gerenciamento de mudanças, orientado ao cliente, para implementar uma plataforma multilateral aberta e com experiências aprimoradas. Também precisava ajudar a reformular e reposicionar a marca e os serviços de intercâmbio oferecidos no país. Acabei desenvolvendo, medindo e relatando o desempenho de campanhas de e-mail marketing para mais de 100 mil usuários. É interessante pensar que cheguei para o intercâmbio no Peru sendo recém-formado, porém nunca duvidei de que eu queria fazer isso acontecer.
Uma pedra no caminho
Foi nessa experiência que renasci, e não digo isso da boca pra fora. No dia do meu aniversário, estava internado e nenhum médico até então sabia o que eu tinha. Depois veio o diagnóstico: câncer. Descobrir isso sozinho, em outro país e parecia um fim da linha, a hora de voltar pra casa.
Foi quando eu decidi que não iria voltar. Por sorte, descobri ainda no começo e não estava em um quadro tão grave. A parte mais difícil foi contar para a minha família, falar que tinha decidido ficar e viver isso sem medo. Nesse momento, meu chefe me deu uma grande lição e disse: “Já que você resolveu ficar, vamos viver isso como uma fase. Estaremos aqui para todo o apoio que você precisar”. Era a força que eu necessitava para continuar.
E agora?
Nesse momento, estou fechando este ciclo da vida e me preparando para voltar para o Brasil. Todas as experiências me deram coragem, persistência, confiança e, principalmente, a capacidade de me adaptar a diferentes contextos, culturas e modos de pensar. Seja em Arapiraca, Maceió, São Paulo, Bucaramanga ou Lima, tentei tirar uma lição de tudo que vivi. Com isso, sei que hoje eu sou uma pessoa muito mais preparada para o mercado de trabalho. Os impactos positivos dessas experiências em mim ficarão para sempre e, onde quer que eu esteja trabalhando, levarei os aprendizados do que desenvolvi durante esses anos. Se eu tenho alguma dica para quem está terminando a graduação agora é: não deixe as oportunidades passarem e se jogue!