Por Nicolas Powidayko, estudante de pós-graduação em Yale
E aí, galera! Meu nome é Nicolas, me formei em economia na Universidade de Brasília (UnB) no ano passado e atualmente curso mestrado em Yale. Yale é realmente um lugar mágico, a Universidade tem uma infraestrutura de ponta, os professores são referências globais em suas áreas de pesquisa e eu nem fazia ideia de tão poderosa que é a rede de contatos. Os aspectos acadêmicos dessa minha jornada vão ficar para um próximo artigo. Nesse meu primeiro texto para o portal Estudar Fora eu vou contar um pouco do dia-a-dia de um estudante de pós-graduação daqui.
Cozinhar, comer, estudar e dormir. A verdade nua e crua é que boa parte do meu dia-a-dia eu gasto na cozinha. Fruto de uma decisão pessoal de morar off campus, posso dizer que não me arrependo. Mas vamos dar rebobinar a fita: on campus, off campus, o que é isso e como funciona na graduação e na pós? Bem, on campus significa morar dentro do campus universitário em um dormitório; off campus, em um apartamento alugado. Como minha colega Bárbara contou aqui e aqui, os alunos de graduação são obrigados a morar os dois primeiros anos em residential colleges (dormitórios que se parecem com as casas de Hogwarts), e a grande maioria permanece lá pelos seus quatro anos. Já os estudantes de pós-graduação podem aplicar para morar on campus em um dos cinco dormitórios exclusivos da pós ou em apartamentos que Yale aluga. O mais famoso dormitório é o Hall of Graduate Studies. Grande parte, contudo, mora fora do campus.
Pelo lado financeiro, dá praticamente no mesmo morar on ou off campus. Muita gente prefere os dormitórios pela comodidade (queimou a lâmpada, basta ligar que amanutenção troca imediatamente), pela localização central e pelo ambiente de entrosamento com outros estudantes. O lado negativo é que você é obrigado a comprar um plano de refeições, a cozinha é compartilhada e a privacidade, quase nenhuma. Ciente de que eu queria um lugar tranquilo, onde eu pudesse cozinhar refeições saudáveis, optei por alugar um apartamento, que eu divido com um rapaz do Nepal que faz doutorado em física.
Grande parcela dos alunos de pós moram em East Rock, um bairro de sobrados ao norte do campus, cujo nome vêm do East Rock Park. O campus de Yale é bem pertinho, cerca de 20 minutinhos andando, porém muitos optam por ir de bicicleta. Yale, contudo, tenta tornar a sua vida mais fácil e oferece gratuitamente ônibus que rodam a cidade de New Haven inteira. Da minha casa até a parada da linha laranja são 50 metros. Como se não bastasse, entre 18h e 6h, é possível pedir (também gratuitamente) o serviço de door-to-door: você liga e um carro da Universidade te busca e te leva para onde você quiser ir. Eu uso esse serviço, por exemplo, para ir ao mercado. Eles me buscam onde eu estiver, me deixam no mercado, eu faço compras, eles me pegam no mercado e me deixam em casa. Moleza, não?
Por falar em mercado, eu normalmente cozinho e preparo lanches para levar para o campus, porém, de vez em quando eu almoço nos food carts, veículos que ficam parados em um estacionamento e vendem comida de rua de diversas regiões do globo a preços mais acessíveis (5 a 7 dólares). Outras opções são os refeitórios de Yale e as centenas de restaurantes existentes em New Haven, das mais variadas gastronomias. New Haven é particularmente conhecida por suas pizzarias, inclusive a pizza de white clam da Pepe’s foi eleita recentemente a melhor do mundo pelo site The Daily Meal (não se preocupe, mãe, estou bem alimentado!).
Estudo (e muito café). No primeiro mês eu gastei um tempo considerável com logística, abrir conta em banco, mobiliar meu quarto, comprar roupa de inverno, mas, desde o início do semestre, minha prioridade tem sido, naturalmente, os estudos. Além das salas de aula, eu passo boa parte do meu tempo nas bibliotecas. E que bibliotecas! Vale um texto só para elas. A Bass Library, por exemplo, tem cabines individuais de 1 m2 que são disputadas à tapa. Eu fico normalmente em uma dessas cabines estudando até o horário de fechamento, 1h45 da manhã, quando um carro da Universidade me deixa em casa.
Para além dos estudos. Além dos jantares semanais do Brazil Club (leia mais aqui) e de palestras com gente de destaque na sociedade (neste semestre tivemos de Chefes de Estado à Lady GaGa), o que não falta em Yale são opções de entretenimento, esporte e lazer.
Yale tem um complexo esportivo de dar inveja, incluindo uma academia de 8 andares cujo prédio, que inclui uma piscina no terceiro andar, foi projetado para ser uma igreja
Na minha segunda semana em New Haven, fui assistir ao espetáculo de Cabaré Orlando, apresentado por estudantes da Escola de Teatro de Yale (de onde saiu ninguém menos que Meryl Streep). Eles também apresentam peças no Repertory Theater e vários musicais da Broadway são estrelados no Shubert Theater. Da Orquestra Filarmônica a recitais, ópera e shows do Glee Club, a variedade de espetáculos musicais é grande. Os preços normalmente são acessíveis a estudantes, com ingressos entre 5 a 20 dólares. A principal exceção foi o espetáculo de Halloween, cujos ingressos a $25 esgotaram em 1 minutos e chegaram a ser negociados por ate 150 dólares (saiba mais aqui).
Yale tenta te manter dentro de uma bolha, mas além de bares e restaurantes, a cidade de New Haven tem uma rica cena cultural. No verão, a cidade organiza festival de jazz e apresentações de peças de Shakespeare ao ar livre. No mês que vem meu primo, que estudou música aqui, vai tocar na peça quebra nozes do Ballet de New Haven. Já estou com os ingressos garantidos!
Yale tem um complexo esportivo de dar inveja, incluindo uma academia de 8 andares cujo prédio, que inclui uma piscina no terceiro andar, foi projetado para ser uma igreja (sério). Estou me esforçando para ir à academia ao menos 4 vezes por semana e jogar tênis uma vez a cada quinze dias, mas está bem difícil. Uma joia pouco conhecida, que eu fui em agosto, é o outdoor center de Yale, uma chácara aberta apenas no verão em que se pode acampar, fazer churrasco, percorrer trilhas na mata e praticar remo, caiaque e stand-up paddle no lago.
Por falar em esporte, o tradicional jogo de futebol americano Yale vs. Harvard está se aproximando! Ex-alunos de Yale e estudantes de Harvard vem à New Haven apenas para assistir ao jogo e se divertir nas diversas festas que acontecem antes, durante e depois da partida. Parte da experiência universitária nos Estados Unidos é acompanhar os jogos dos times da sua Universidade e nenhum exemplo é melhor que o Yale-Harvard game!
O ritmo de estudos é bem puxado, mas existe toda uma vida cultural, esportiva e artística fora das salas de aula
Bares, baladas e festas. Um ponto negativo: New Haven não é tão badalada como Nova Iorque, mas como toda cidade universitária, a vida noturna é agradável. Os estudantes de pós normalmente se reúnem em house parties, festas na casa das pessoas onde você leva amigos e sua própria bebida. Quase todas as festas terminam no Gypsy, o bar pé-sujo da pós que também conta com um espaço para balada. De vez em quando acontecem algumas festas maiores. Uma delas em que eu fui aconteceu no Museu de Historia Natural de Yale, o Peabody Museum. Nada mais agradável que dançar sob a vista dos dinossauros.
Uma diferença cultural interessante que eu pude notar é o modo como as celebrações dos americanos refletem as mudanças de estações e a colheita de frutas. Importada da Alemanha, a Oktoberfest, por exemplo, marca o início do outono, e é a última grande festa que pode ser realizada ao ar livre (no caso em beer gardens). Já o Halloween marca o período em que a maioria das árvores já perdeu suas folhas. A colheita de abóboras se encerra no fim de outubro, época em que as fazendas enchem os supermercados com o que sobrou nas plantações.
Winter is coming. Bem, o inverno e as provas finais estão chegando, então novembro tem sido um mês para relaxar e colocar a leitura em dia. Com foco e planejamento do tempo, é totalmente possível manter uma vida balanceada. O ritmo de estudos é bem puxado, não tem como não ser, mas existe toda uma vida cultural, esportiva e artística fora das salas de aula e a própria Universidade faz de tudo para que você tenha uma experiência completa. Espero que vocês tenham gostado do relato e até a próxima!
*Foto de abertura: Universidade Yale na primavera / Crédito: arquivo pessoal do Nicolas Vanzela
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