Por Gabriela Ribeiro – Psicóloga Intercultural
Nossa maior missão é auxiliar as pessoas a serem felizes longe de casa. E depois de muitas migrações, histórias de despedidas ao redor desse mundão, recheadas de lágrimas, conquistas e muito, muito estudo acerca das experiências migratórias, venho em total defesa da tão falada e sentida SAUDADE. E se você pretende estudar um tempo fora, se prepare: ela será a primeira a te dar as boas vindas quando chegares em seu novo lar.
Você já parou para pensar que sentir saudades é um dos bens mais preciosos da alma? Sentir a ausência de casa, de alguém, de momentos, cheiros e gostos, do nosso cantinho… é, certamente, um indicador de uma vida “bem vivida”. Se você sente muito a falta de alguém querido (ou “alguéns”), é sinal de que tem o coração cheio de amor e de que muitas pessoas especiais já passaram pela sua vida deixando marcas gostosas. Isso deve ser motivo para sentir muita gratidão!
Um coração vazio, que não chora a ausência de algo especial, que não se reporta a uma memória confortável e ao desejo de ter aquilo pertinho de novo, me dá a impressão de um coração desatento e preguiçoso para as coisas mais simples e bonitas da vida. Portanto, se você é uma daquelas pessoas que vivencia as dores e as delícias das saudades, você tem todo meu apoio e admiração. A sua vida está valendo à pena!
Tá bem… ainda assim não é fácil. Sei o quão dolorido é acordar com aquele desejo (que não pode ser atendido) de ter o carinho e abraço dos SEUS pais, do sorriso encantador dos SEUS filhos, do amor espontâneo do SEU cachorro, do cheirinho de comida que sai da SUA cozinha, do aconchego e confidências do SEU velho quarto, do barulho da rua, da temperatura da cidade… Eu poderia escrever mil páginas sobre tudo aquilo que faz cada um de nós chorar, sentir um aperto no peito e uma sensação de desamparo tremenda. Quem de nós não viveu isso na pele?
A saudade faz parte de nossa existência. Mas, claro, todas as sensações que ela traz são potencializadas quando estamos em terras estrangeiras… fisicamente bem longe de tudo aquilo que nos referencia. Do outro lado do oceano, das Américas, é fácil se pegar com um olhar distante, num buraco profundo, com uma ferida aberta… Mas ó! Psiu! Você aí! Permita-me lembrá-lo de algo: Pessoas inteligentes são aquelas que se propõe a aprender a lidar com as incertezas da vida, com os próprios medos, dores, e a valorizar/cultivar o que de melhor têm em si e nos outros. INTELIGENTES, não, mais que isso, SÁBIOS. Sábios e inteligentes são aqueles que escolhem ou precisam viver longe de seu país, seu mais conhecido aconchego, e se dispõe a lidar com as ausências de um jeito positivo. Sim, o desafio interno é grande. Mas vale o esforço!
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Gabriela Ribeiro – Colunista sobre Psicologia e Educação Intercultural
É psicóloga com formação na PUCRS, em Porto Alegre. Recebeu profunda formação na metodologia Intercultural Training®, desenvolvida por Andréa Sebben através de sua longa trajetória de estudos e trabalhos na Europa e Brasil. Fez intercâmbio na Inglaterra e Nova Zelândia e já esteve em 28 países. Participou de cursos de formação nas Ciências Interculturais em países como o Chile, Argentina, Venezuela, Costa Rica e Colômbia. Há 7 anos ministra palestras e Treinamentos Interculturais em todo Brasil, em diversos idiomas, é membro da IAIE – International Association for Intercultural Education.