Por Lucas Hackradt, especialista em Aprendizagem Intercultural
A carta de aceitação em uma universidade estrangeira chegou, o coração deu aquela apertada e você agora se deparou com a realidade: estou indo embora do Brasil! Não tem mais volta. Pelos próximos semestres você estará em um país completamente diferente, vivendo em uma cultura distinta, comendo coisas esquisitas e falando uma língua estranha. Mas calma, não é hora de se desesperar! Aqui vão cinco dicas para todo intercambista:
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Aprenda a lidar com as expectativas
Não tem nada pior que elas! É inevitável que todos esperemos alguma coisa do intercâmbio. Mas alguns pintam uma imagem do país hospedeiro tão idealística que, chegando lá e vendo que pouca coisa muda em relação ao Brasil, sentem-se deprimidos. Ou, às vezes, as coisas que acreditamos saber sobre determinado lugar são apenas estereótipos ou generalizações, e chegamos ao exterior para perceber que não sabíamos nada! Gerenciar expectativas é uma arte – arte essa que toda pessoa que pensa em morar fora deve dominar.
Você não fala a língua tão bem quanto achava
Essa é talvez uma das maiores fontes de frustração para intercambistas. Quem vai para países de língua inglesa costuma ter confiança em suas habilidades com a língua – e muitos têm grande habilidade mesmo! Mas nove em cada dez pessoas que moram fora sabem que, assim que você chega no país, percebe que na verdade não domina tanto o idioma quanto pensava. E tudo bem isso ser assim! O importante é não se sentir acanhado e continuar conversando, cometendo erros e falando, mesmo que errado. Com o tempo, seus amigos vão lhe corrigindo e você adquire fluência.
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Mantenha um diário
Não só a experiência é muito nostálgica e totalmente anos 80/90, como você, depois, vai poder lembrar tudo o que fez! Tem gente que pode até achar uma chatice escrever um diário, mas também quase todo mundo que já foi intercambista sabe como é bom, anos depois, poder reabrir aquele caderninho em um dia qualquer e reler a experiência mais fantástica da sua vida com detalhes que você jamais conseguiria se lembrar.
Comunique-se
Grande parte dos problemas relacionados a choques culturais têm a ver com a falta de comunicação. Lembram-se de outro post que fiz aqui falando sobre o Iceberg? Pois é. Quando estamos no exterior, costumamos pensar que tudo é natural e que nossos padrões comportamentais são os corretos. Por isso, quando alguém faz alguma coisa que não gostamos, ao invés de pensarmos imediatamente que aquela cultura pode ter valores diferentes, presumimos que as pessoas são estranhas, grossas, mal educadas… A única forma de evitar grandes conflitos é ser aberto com todos. “Não gostei disso” ou “no Brasil nós agimos diferente” são frases que podem lhe ajudar durante seu ano de estudos no exterior. E, claro, lembre-se: nada é “natural”. Esse conceito não existe quando estamos lidando com culturas. Não só você poderá tirar muitas lições, mas as pessoas que conviverão ao seu redor também aprenderão muito com sua experiência.
Deixe o Brasil em segundo plano… pelo menos por esse tempinho!
Não, a dica aqui não é você deixar de ser brasileiro ou esquecer-se disso. Pelo contrário! Mas também toda pessoa que mora no exterior sabe o perigo que é viver em um “pequeno Brasil” lá fora. E nós, latinos no geral, temos muita tendência a fazer isso quando estamos no exterior. Não é que não possa ter amigos brasileiros. É bom ter com quem conversar. Mas procure fazer amigos de verdade do país em que estiver morando. Ou de outros lugares legais do mundo! Evite usar o português, não ligue para sua família todos os dias (nem toda semana!), viva seu intercâmbio o máximo que puder. A saudade pode ser forte, mas o Brasil estará sempre aqui. Um dia você voltará. O que pode não acontecer nunca mais é você voltar para seu país hospedeiro ou ter a mesma experiência de novo. Então, claro, aproveite!
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Lucas Hackradt – Colunista sobre a aprendizagem em experiências de intercâmbio
Sou formado em Comunicação Social, mas trabalho na área de educação intercultural desde 2007, quando me tornei voluntário do AFS Intercultura Brasil. Trabalhei na Globo, GloboNews e na Editora Globo como repórter da Revista ÉPOCA, e desde março deste ano integro o quadro de funcionários do AFS no Brasil como Especialista em Aprendizagem Intercultural, ligado à área de Desenvolvimento Organizacional da ONG. Já passei por diversos treinamentos e capacitações na área de educação intercultural, gerenciamento de conflitos culturais e estudos de comunicação intercultural. Já morei em quatro países, o mais recente dos quais Moçambique, na África, aonde desenvolvi projetos de desenvolvimento social sempre atrelados à questão da Interculturalidade. Me guio por uma frase simples: no mundo, nada é pior, nada é melhor, tudo é simplesmente diferente. E ser diferente é legal!