Foi na manhã de 29 de maio, com um vento frio que insistia em soprar enquanto eu andava pela rua, que o hino americano cantado por Aretha Franklin abriu a cerimônia: era a formatura da turma de Harvard 2014. O famoso Harvard Yard e suas árvores frondosas mostravam que, apesar da baixa temperatura, a primavera já tinha chegado. Pais, tios, irmãos, amigos… todos se aglutinavam para ver a chegada dos protagonistas da 363a formatura promovida pela Universidade. Vestidos com suas becas pretas e vermelhas, segurando seus chapéus, os 7.301 formandos de todas as escolas de Harvard se uniram em um único evento.
Na festa de formatura de uma das maiores e mais tradicionais Universidades do mundo, a paraninfa deste ano foi ninguém menos que Sheryl Sandberg, braço direito de Zuckerberg e uma das dez mulheres mais influentes do mundo, segundo a revista Forbes. Seu discurso perpassou por temas espinhosos, como desigualdade racial e de gênero no ambiente de trabalho, e depois evoluiu para uma lição de vida. Ao contar sua trajetória pessoal, Sandberg disse que, ainda no college achava que seu futuro seria como advogada, trabalhando primeiramente no Banco Mundial e, depois, no Terceiro Setor. Ela já tinha tudo, absolutamente tudo planejado.
É tradição convidar vários ex-alunos para as festas de formatura. A aluna mais antiga que esteve presente tem 98 anos e pertenceu à classe de 1937
Um ano e meio depois de formada, no entanto, decidiu fazer um MBA na Business School da própria Harvard, entrou na iniciativa privada, desistiu de ser advogada e viu seu casamento ruir. Foi então que seus planos mudaram completamente, perdeu-se no meio de suas culpas, escreveu um livro, libertou-se de várias amarras e, finalmente, chegou ao posto de Diretora de Operações da maior rede social da história. Como aprendizado, viu que não há um caminho único na vida; como ensinamento, disse que devemos estar abertos às possibilidades, especialmente as que vem da internet.
E, não bastasse o hino de Aretha e o discurso de Sandberg, ainda teve mais. Além de presenças ilustres, como a da escritora chilena Isabel Allende, laureada com o título de Doctorof Letters; e do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, laureado com o título de Doctor of Laws, a festa de Harvard guardava outras surpresas. Andando pelos jardins do Yard, me deparei com antigos alunos da Universidade, segurando placas com o ano de sua formatura. Ao que consta, é tradição convidar vários ex-alunos para as festas de formatura. A aluna mais antiga que esteve presente tem 98 anos e pertenceu à classe de 1937.
Olhando para eles, comecei a pensar na importância desta tradição. Esta troca entre gerações, além de constituir uma forte identidade institucional, também cria um senso de comunidade. Aqui, muitos dos que se formam, querem retribuir de alguma forma a instituição, colaborando com a educação dos mais jovens. Penso que talvez por isso insistam em estar presentes na cerimônia de formatura, como uma forma de incentivo.
Essa troca entre gerações também simboliza outra coisa: o entendimento que educação é o maior investimento que se pode fazer em si mesmo. Educar-se significa mudar, evoluir o pensamento. Significa pensar de forma estruturada, moldar argumentos, discutir ideias e não pessoas. A educação de forma geral, serve não só para acumular conhecimento ou para conseguir bons empregos, mas também permite que tenhamos uma vida dignificante. Uma vida que nos permita ser agentes de transformação do mundo, pessoas capazes de inspirar e iluminar caminhos, capazes de compreender o presente e inovar o futuro.
A caminhada pode ser dura e longa, mas Sheryl Sandberg e tantos outros já mostraram que vale a pena
Obviamente, a crença no poder da educação não é uma exclusividade de Harvard. Na verdade, toda a região de Boston é academicamente muito próspera. Aqui também estão outros gigantes da educação, como MIT (Massachusetts Institute of Technology) , Boston University, Northeastern University e mais de 50 outras instituições, que diariamente transformam vidas, educando e emancipando pessoas. Isso faz com que toda a cidade tenha uma comunidade vibrante, cheia de gente criativa, obstinada e com vontade de fazer a diferença.
Ontem, torci para que outros jovens obstinados, disciplinados e focados deixem sua zona de conforto. Torci para que escolham enfrentar as distâncias, lançar-se aos livros, encarar as angústias e delícias de uma educação de alto nível. Sonhei com os brasileiros que toparão esse desafio e que poderão, no futuro, participar de histórias como essas. Sonhei, mais ainda, que esses brasileiros voltem e criem novas tradições no nosso país. A caminhada pode ser dura e longa, mas Sheryl Sandberg e tantos outros já mostraram que vale a pena.
Assista à apresentação de Aretha Franklin:
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Carol Campos é advogada por formação e docente por vocação. Fez mestrado em Ciência Política, estudou Direito Empresarial, saúde pública, educação e feminismo. Como advogada, trabalhou em escritórios como TozziniFreire e Dannemann. No serviço público, atuou na ANVISA. Por sete anos, foi também professora de ensino superior. Tornou-se gestora educacional, trabalhou com assuntos regulatórios em educação, coordenou um Núcleo de Prática Jurídica e outro de TCC: ao mesmo tempo! Até que um dia fez as malas, vendeu os móveis, empacotou os livros e foi morar com a família em Cambridge. Atualmente, realiza de diversos cursos na área de educação e é voluntária do MIT Brasil, além de escrever para o Estudar Fora.
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