No último domingo, dia 24 de maio, o presidente Donald Trump dos Estados Unidos proibiu a entrada nos Estados Unidos de pessoas vindas do Brasil. Segundo o decreto presidencial, estrangeiros de qualquer país que tenham estado no Brasil durante os 14 dias anteriores à sua chegada aos EUA não poderão entrar.
Para quem pensa em estudar nos Estados Unidos, a medida tem uma série de implicações — ainda mais para aqueles cujas aulas já têm data para começar. Por isso, conversamos com Rita Moricone, coordenadora regional do Education USA (organização que promove o ensino superior dos EUA no Brasil) para entender melhor a medida e orientar estudantes que já tenham planos de estudar nos Estados Unidos. Confira:
O que muda para quem pensa em estudar lá?
De acordo com Rita, a medida adotada pelo governo dos EUA não muda a relação das universidades dos Estados Unidos com os estudantes brasileiros. As instituições estão realizando campanhas como a “You Are Welcome Here” para reafirmar a importância dos estudantes estrangeiros nas universidades estadunidenses. “As portas estão abertas. Queremos os estudantes brasileiros nos Estados Unidos”, reforça Rita.
Além disso, o Education USA vem promovendo uma série de eventos online realizados por instituições de ensino superior dos Estados Unidos. Há webinars com temas como dicas para escrever essays e painéis sobre áreas de estudo específicas, como um do MIT sobre inovação na América Latina.
A agenda completa dos eventos pode ser vista neste link. Ela também inclui plantões de dúvidas para estudantes brasileiros que queiram se informar sobre os procedimentos necessários para estudar nos EUA, e quais medidas tomar diante da nova situação.
A medida do presidente, portanto, tem segundo Rita o objetivo de proteger tanto a saúde dos cidadãos dos EUA quanto do Brasil. É, aliás, semelhante a uma medida adotada pelo governo brasileiro: a portaria 152, publicada em 27 de março, restringia a entrada no Brasil de estrangeiros de qualquer nacionalidade por 30 dias.
Ela foi prorrogada por mais 30 dias em 28 de abril. A medida brasileira, no entanto, tem um prazo determinado, ainda que possa ser prorrogada; o decreto do presidente dos Estados Unidos não indica quanto tempo durará a restrição.
E para quem já está aprovado para estudar lá?
Aos alunos brasileiros que já foram aprovados por instituições dos EUA, é necessário verificar junto à universidade como acontecerá a volta às aulas. “São 4.700 universidades a nível de graduação, 1.700 a nível de pós-graduação, e cada uma com um plano diferente”, pontua Rita.
Por isso, a coordenadora do Education USA recomenda que os estudantes estejam “em contato direto” com as universidades para as quais foram aprovados. É bem possível que as instituições pretendam começar as aulas em formato online, e só depois passar a ter aulas presenciais.
“Algumas [univesidades] estão abrindo de maneira ‘híbrida’, como o MIT. Elas vão ter aulas presenciais e virtuais, e numa mesma turma vai ter alunos que estão lá, e outros assistindo online”, comenta. Nesse caso, brasileiros aprovados poderão começar as aulas online e dirigir-se para os EUA após o levantamento das restrições de entrada.
Essa possibilidade é a mais provável de acontecer já que, segundo Rita, a emissão de vistos para estrangeiros entrarem nos EUA está suspensa por enquanto. E de acordo com Rita, mesmo estudantes aprovados para estudar com bolsas concedidas pelo próprio governo estadunidense ficam sujeitos às novas restrições de entrada no país.
Por isso, Rita também orienta os alunos com data marcada para começar seus estudos nos EUA a ficar de olho na página de vistos do Departamento de Estado do governo do país. Conforme os serviços de emissões dos documentos voltarem a funcionar, será possível ver as datas de retomada nessa página.
Quarentena em outro país
O decreto do presidente dos EUA impede a entrada de “estrangeiros que tenham estado no Brasil nos últimos 14 dias”, e não especificamente de brasileiros. É de se imaginar, portanto, que um brasileiro que estiver fora do país e se dirigir aos Estados Unidos diretamente poderá entrar.
Rita confirma que esse é o caso. Diz ainda que brasileiros que passarem 14 dias em algum dos países para os quais os Estados Unidos ainda não tem restrições de entrada e então se dirigirem para lá poderão entrar. “Essa possibilidade existe. Pode ser qualquer país que tenha fronteiras abertas com os EUA”, comenta Rita.
Ela também ressalta, no entanto, que isso não pode ser necessário. Como a medida não tem data certa para deixar de valer, ela ainda pode “cair” em breve. “Pode ser que antes mesmo do início das aulas já tenha mudanças”, avalia.
Planos para o futuro
Rita reitera que as medidas de saúde tomadas agora não alteram a disposição dos EUA para receber alunos brasileiros em suas escolas. De fato, há diversas organizações e universidades do país com programas de bolsas de estudo sendo oferecidos normalmente apesar da crise de saúde pública, como o Knight-Hennessy e o Hubert Humphrey.
Em uma carta enviada às universidades dos Estados Unidos, a vice-secretária assistente de Educação e Assuntos Culturais do Departamento de Estado dos EUA, Caroline Casagrande, também reforçou essa intenção. Na carta, datada de 22 de abril, a vice-secretária garante que “o Departamento de Estado continuará a apoiar a mobilidade acadêmica”.