Por Lina Donnard
Desde adolescente, quando estudei em uma escola italiana em Belo Horizonte, eu tinha o sonho de viajar pelo mundo e ter experiências internacionais que me transformassem tanto como pessoa como profissional. Quando iniciei a graduação em Relações Internacionais entendi que alcançar o sonho de trabalhar na área não seria fácil. ONU, Estados, organizações internacionais, blocos econômicos, guerras, balança de poder, modelos econômicos, teorias e infinitos textos para tentar entender o que parecia tão distante da minha realidade. E a pergunta que não queria calar era “Será que algum dia eu vou me sentir realizada profissionalmente na área de Relações Internacionais?”. Hoje eu tenho a resposta para essa pergunta. Vem comigo que eu te conto!
Em 2012 iniciei o mestrado em Estudos Internacionais na Université de Montréal, no Canadá. Mal sabia eu que esse mestrado mudaria a minha história. Depois de cursar as disciplinas e fazer um estágio na Delegação do Québec em Atlanta, para fechar com chave de ouro, em 2014 enviei minha candidatura para participar de um tour acadêmico na Europa que aconteceria em maio do mesmo ano: 17 dias, 5 países e um grupo de 50 estudantes de diferentes universidades do Canadá. No tour, visitaríamos as principais organizações ligadas à União Europeia (UE) na Bélgica, França, Alemanha, Luxemburgo e Holanda. Recebo, por e-mail, a resposta que esperava com tanta ansiedade “Lina, parabéns! Você foi selecionada”.
Em cada instituição, tivemos aulas com funcionários de alto escalão que nos apresentavam suas áreas de especialidade.
No primeiro dia em Bruxelas, tivemos aulas com professores da Université Saint-Louis, referência em estudos europeus e quem organiza o cronograma com visitas em 40 instituições, entre elas, Comissão, Conselho e Parlamento Europeu, Europol, Tribunal de Haia, Tribunal de Justiça da União Europeia, Banco Central Europeu, OTAN, Corte Europeia de Direitos Humanos, organizações sem fins lucrativos, think thanks, representações diplomáticas, universidades entre outros. Em cada instituição, tivemos aulas com funcionários de alto escalão que nos apresentavam suas áreas de especialidade. Ao final, sempre havia um momento de perguntas e respostas que, muitas vezes, acabavam em debates bem interessantes. Fiquei impressionada com o conhecimento de alguns colegas que faziam perguntas tão inteligentes. Aprendi com todos eles.
Eu nem vou tentar descrever Bruxelas. A cidade é incrivelmente charmosa. É a capital da União Europeia e nela você respira relações internacionais aonde for. Em seguida, fomos para Luxemburgo e Estrasburgo na França. A arquitetura fascinante de cada instituição traz consigo uma mensagem evidente de poder e soberania. Assistimos a um julgamento ao vivo de dois casos de extradição no Tribunal de Justiça da União Europeia. Que experiência! Seis juízes, a advogada da UE, o advogado da França, os advogados dos extraditados e as cabines de tradução simultânea funcionando a todo vapor. Em seguida, fomos convidados para um almoço chiquérrimo com o juiz principal. E não é que ele era simpático? Respondeu perguntas, deu dicas de carreira e conversou conosco. Como eu amo pessoas que possuem uma carreira incrível e guardam a simplicidade no coração!
Na Alemanha fomos às cidades de Hachenburg e Frankfurt. Se você quer conhecer mais profundamente sobre história contemporânea, você tem que visitar esse país. Passamos um final de semana na cidade de Hachenburg, onde tivemos aula na Deutsche Bundesbank University. Eu sei… o nome é complicado. Deixa eu simplificar. Nessa universidade são formados os futuros economistas que irão trabalhar na UE. Ela é pequenininha e o campus é um castelo medieval que foi reformado. Eu diria uma “universidade boutique”. A cidade de Hachenburg é a coisa mais linda. Aproveitamos a folga e tivemos um fim de semana muito divertido.
Haia, na Holanda, é a capital do Direito Internacional. Nela estão a Europol, Corte penal internacional, Tribunal de Justiça e Organização para Desarmamento de Armas Químicas. Eu me interesso muito por temas relacionados à segurança internacional, espionagem e, confesso, adorei aprender mais sobre a Europol. E que esquema de segurança para entrar no prédio! Explico: visitamos organizações que não são abertas ao público, ou seja, visitas exclusivas. Sabe como é… eles precisavam ter certeza de que não havia nenhum espião no grupo. Coisa de James Bond.
De volta à Bruxelas, o coração começa a apertar, pois a viagem estava chegando ao fim. Uns iam voltar para casa e outros iam fazer estágios em diferentes instituições na Europa. Quase três semanas com pessoas que eu nem conhecia e, depois de tantos momentos incríveis juntos, criamos laços fortes de amizade. A viagem entre os países era feita de ônibus. Sabe aquelas excursões que fazíamos na escola? Todo mundo cantando, rindo, compartilhando comida e batendo aquele papo agradável? Era exatamente assim. Fizemos piquenique nos parques de Bruxelas, tomamos cerveja boa e barata na Alemanha, saímos para dançar, filosofamos sobre a vida, rimos e choramos juntos. Sem nos conhecermos, cuidamos e acolhemos as diferenças uns dos outros. Entendemos que, com respeito, podemos sim ter perspectivas diferentes e encontrar um espaço de diálogo. A experiência acadêmica e cultural foi incrível, mas os encontros humanos foram arrebatadores.
Durante o tour comentei com alguns colegas como eu adoraria fazer aquela viagem todo ano. Não custa sonhar, né? Quando disse isso, não imaginava que, no ano seguinte, eu co-fundaria com meu melhor amigo a Mission Abroad, organização sem fins lucrativos na área de educação internacional. Nosso primeiro tour será em julho deste ano na União Europeia: 17 dias, 5 países e um grupo de 50 estudantes de diferentes universidades do Brasil. Com nossas trajetórias transformadas pela experiência internacional única que estudar no Canadá nos proporcionou, nossa missão agora é oferecer a mesma transformação aos brasileiros.
E você? Já sabe qual é a sua missão?
*Foto: Tribunal de Justiça da União Europeia, Luxemburgo / Crédito: Lina Donnard
LINA DONNARD
Internacionalista e apaixonada por pessoas. Mora no Canadá desde 2009, onde fez o mestrado em Estudos Internacionais na Université de Montréal. Atua como consultora em educação, coach profissional e compartilha suas experiências no site www.linadonnard.com . É presidente e co-fundadora da organização sem fins lucrativos Mission Abroad, que atua na área de educação internacional e tem como público-alvo brasileiros que possuem o sonho de ter experiências acadêmicas e profissionais no exterior.