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Um longo caminho até a Harvard Kennedy School of Government

Duval Guimaraes

Filho de pequenos pecuaristas que migraram de Minas Gerais para o Mato Grosso, Duval Guimarães nasceu na pequena cidade de Rio Branco, de 5 mil habitantes, localizada a 350 quilômetros da capital Cuiabá. Logo percebeu, porém, que não tinha o dom de criar gado, tirar leite e produzir queijo – atividades que vinham sustentando sua família por tantos anos. Buscando melhor educação, mudou-se de cidade três vezes até chegar a Timóteo, no interior de Minas, onde concluiria o Ensino Médio. Nesse processo, acabou perdendo um ano de escola. “Meus pais nunca me cobraram para ser um bom aluno, pois essa não era a realidade deles”, explica.

Sua família também não imaginava a importância que o inglês teria para a sua vida mais tarde, mas Duval se matriculou numa aula do idioma: “convenci meu pai a pagar as aulas de inglês quando retomei os estudos”, conta. Nesse momento, sentiu que era hora de focar nos estudos. “Entrei no nível básico 2, mas perguntei ao professor se poderia acompanhar também as aulas do básico 3, paralelamente, para ganhar tempo. Estava na escola todos os dias.” Foi uma professora de inglês que lhe deu o primeiro incentivo a estudar fora, mesmo que indiretamente. “Ela me entregou um panfleto de divulgação de um curso de idioma nos Estados Unidos. Eu me interessei e vendi alguns bezerros que tinha ganhado aos 10 anos para completar o orçamento”, diz.

Era dezembro de 2001 quando pisava pela primeira vez em território americano, permanecendo por lá três meses. De volta a Timóteo, Duval dava aulas de inglês com um material diferenciado, que trouxe dos EUA. Aos poucos, foi aprimorando seus próprios conhecimentos do idioma, até que decidiu voltar para os Estados Unidos. Conseguiu entrar na Santa Barbara City College – um dos chamados community colleges americanos, escolas que oferecem cursos tecnólogos (associate degrees) de dois anos de duração.

Duval Guimaraes 3Nesse período, estudava ciências políticas e relações internacionais, mas também trabalhava como motorista de táxi. Sabia que após o associate degree poderia tentar uma transferência para uma curso de bacharelado. De fato, conseguiu ser transferido para a American University, em Washington, com uma bolsa parcial. Durante o curso, passou seis meses na Universidade Federal de Brasília (UnB), com o objetivo de estabelecer um acordo de intercâmbio entre as faculdades. E, no último semestre, fez um estágio não remunerado na Organização dos Estados Americanos (OEA), o que lhe abriu muitas portas. Ficou sabendo de uma oportunidade de se candidatar para trainee no Banco Mundial e, para sua própria surpresa, foi escolhido.

A partir daí, sua carreira deslanchou. “Pelas regras do Banco Mundial, eu só poderia trabalhar como Junior Professional Associate por dois anos. E coincidiu de, após um ano no órgão, ser convidado para participar de outro programa de dois anos, desta vez no Fundo Monetário Internacional (FMI), como assistente de pesquisa (research assistant)”, conta. Nesses três anos, conheceu muita gente que tinha feito mestrado na área de políticas públicas e sentiu a necessidade – e vontade – de se especializar também. “Pesquisando as melhores escolas, achei os programas de Harvard e Chicago os mais alinhados às minhas expectativas. Porém, não teria condições de fazer o MPP se não conseguisse uma bolsa de estudos significativa.”

Duval tinha muitos pontos a seu favor: um bom nível de inglês, um currículo notável, uma história de vida interessante e recomendações de alto nível. Porém, tirou uma nota bastante baixa na prova que compõe a candidatura, o GMAT (540 pontos, enquanto a média dos alunos das melhores escolas costuma ser acima de 700). “Não que a prova seja muito difícil. O meu erro foi não ter me planejado. Quando vi, não dava mais tempo para refazer o teste”, admite. Mas isso não impediu que o jovem fosse aceito nas duas universidades para as quais aplicou e ainda conseguido uma bolsa da Fundação Lemann para a Kennedy School. “Na verdade, fiquei na lista de espera de Harvard e fui pessoalmente conversar com a diretora do programa. Coincidência ou não, no mesmo dia, recebei um e-mail dizendo que minha vaga tinha sido aberta.”

Duval Guimaraes 2Segundo Duval, a Kennedy School é uma escola muito diversa, que atrai muitos alunos estrangeiros, com ideologias e culturas bem diferentes. “Meus colegas tinham histórias e trajetórias muito interessantes – trabalhavam no setor público, consultorias ou ONGs, todas buscando ter algum impacto social para o seu país”, conta. De sua parte, Duval desenvolveu um projeto de conclusão de curso sobre a Câmara Mirim de Ipatinga, no Brasil, que incentiva a participação de jovens na política local. “Essa e outras experiências no setor público me fizeram ter vontade de mergulhar na política brasileira. Só não está claro ainda de que forma eu farei isso. Até hoje não me filiei a nenhum partido político, mas não descarto essa possibilidade.”

Atualmente, Duval é assessor especial da Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Informação de Belo Horizonte e ajuda a implementar um modelo de gestão baseado no chamado CitiStat – um projeto americano focado no uso de dados e números que o governo coleta para tomadas de decisão. “A partir do diagnóstico das demandas de secretarias regionais, podemos melhorar a eficiência da prestação de serviços públicos, redistribuindo os servidores e realizando trabalhos preventivos”, explica. Realizado profissionalmente e pessoalmente – de volta ao lado da sua família –, Duval incentiva outros brasileiros a tentarem a sorte como ele. “Na minha experiência, aprendi que o caminho percorrido vale tanto quando as conquistas tangíveis. Qualquer deslize pode ser compensado com uma boa história de vida.”

Neste vídeo, Duval conta um pouco da sua trajetória:

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