Depois de se formar em Química na Universidade de São Paulo (USP), o paulistano Marcelo Jacobs-Lorena foi para o Japão fazer um mestrado em Bioquímica, com foco em genética e sequenciamento de proteínas. De lá, partiu para Boston, nos Estados Unidos, a fim de estudar mecanismos que inibem a síntese de proteínas a partir de experiências com ouriços, em um doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Como continuação da sua carreira acadêmica, fez também um pós-doutorado na Suíça, em que estudou o desenvolvimento embrionário na mosca-do-vinagre.
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Quando ocupou sua primeira posição como professor, no departamento de genética da Case Western Reserve University, em Cleveland, Ohio, ainda não imaginava que suas pesquisas tomariam outro rumo: passariam a ser focadas no ser humano e poderiam ter um grande impacto social de nível global. Continuou seguindo a mesma linha de estudos, até que começou a trabalhar com mosquitos vetores de doenças importantes, na Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health. Aos poucos, tornou-se especialista em pesquisas sobre a interação molecular entre o parasita e o mosquito vetor da malária.
Na última década, Marcelo ampliou o foco do estudo para o ciclo da doença no homem e chegou a desenvolver um mosquito transgênico imune ao plasmódio, parasita causador da malária. Ele sugaria o sangue de animais contaminados com a doença, mas suas picadas não a transportariam para os seres humanos. “A ideia era introduzir dezenas de milhares deles em áreas infestadas por mosquitos que transmitem a malária, mas, na prática, isso ainda não se resolveu”, explica Marcelo, que é professor do Departamento de Microbiologia Molecular e Imunologia e pesquisador no Instituto de Pesquisa sobre Malária.
Em vista das dificuldades, sua equipe criou uma nova estratégia que possibilitou que a pesquisa avançasse nos últimos anos: modificar geneticamente as bactérias que vivem no intestino do mosquito. Elas atacariam o plasmódio com proteínas tóxicas e bloqueariam o desenvolvimento do parasita. Otimista com os resultados do projeto, Marcelo encoraja outras pessoas interessadas em Saúde Pública a se especializar na área. “Entre 600.000 e 1,2 milhão de pessoas morrem em consequência da doença por ano – a maior parte delas, crianças abaixo de 5 anos. É um problema muito sério, que exige pessoas de talento para combatê-lo.”
Ele destaca que a Johns Hopkins é a maior escola de Saúde Pública do mundo e que os temas abordados no mestrado não são específicos dos Estados Unidos, podendo ser aplicados em vários países. “O brasileiro que estuda aqui certamente vai abrir seus horizontes e voltar ao Brasil com outra visão, muito mais ampla, dos problemas relacionados à Saúde Pública”, opina. “O objetivo principal da nossa escola é exatamente melhorar a qualificação e a competência dos profissionais da Saúde Pública em nível global.”
Assista a um vídeo em que Marcelo conta sobre sua primeira tentativa de combater a malária: